ABICS cria protocolo inovador para avaliação de qualidade do café solúvel

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Para entender melhor o significado desse avanço, fizemos uma entrevista exclusiva com o diretor de relações institucionais da ABICS, Associação Brasileira da Indústria de Cafés Solúveis, Aguinaldo José de Lima. Confirma abaixo:

Grão Especial – Antes de você falar da nova metodologia, queria que contasse um pouquinho sobre a história da ABICS (site).
Aguinaldo José de Lima – A ABICS é uma entidade bastante antiga, da década de 60, logo que o café solúvel foi criado. O Brasil rapidamente se tornou líder mundial e, diga-se de passagem, nunca mais perdeu essa liderança.  A ABICS hoje tem cinco empresas associadas, com mais de 50 anos de atuação no Brasil. São elas: Nestlé, Cacique, Iguaçu, Real Café, Cocam, e temos uma pequena, a Campinho, de Alfenas, Minas Gerais. A Olam vai entrar ano que vem, uma vez que começa a operar em fevereiro de 2023, uma produção em Linhares, no Espírito Santo, num investimento de mais de R$ 800 milhões”;

Grão Especial – Como é a participação do Brasil no mercado de cafés solúveis?
Aguinaldo José de Lima – O Brasil é líder mundial na produção de café solúvel, nosso volume é 35% superior do que o do segundo mercado produtor, que é o México.
Exportamos para 100 a 120 países por ano, representando 16% do mercado internacional, e gerando uma receita de US$600 milhões em termos de divisas. O café solúvel é o 13º. produto agrícola mais exportado do Brasil.

Grão Especial – E como é o consumo de cafés solúveis lá fora?
Aguinaldo José de Lima – O consumo de café solúvel no mundo responde por 16 a 28% do mercado. No Reino Unido, para se ter uma ideia, o consumo de solúvel é de 60%.

Grão Especial – E o consumo no Brasil?
Aguinaldo José de Lima – Já no Brasil é só de 5%, ou seja, temos muito ainda para crescer no mercado interno. Mas é importante salientar que o consumo cresce o dobro em relação ao café torrado, e o produto vem chamando bastante atenção no mundo todo. Isso porque as empresas de café solúvel começaram a investir em qualidade cerca de oito anos atrás. investiram em novas embalagens e em diversas utilizações do café solúvel. Então, a ABICS entendeu que era preciso padronizar para não perder essas vantagens competitivas. A L’Or, a Nestlé, a Melitta, a 3Corações começaram a lançar produtos bastante diferenciados. Não se vê mais só três marcas nas prateleiras dos supermercados como antigamente. O solúvel era um café para ser misturado ao leite, e só! Começaram a surgir solúveis muito bons.

ABICS
Aguinaldo José de Lima

Grão Especial – Mas o consumidor entende as diferenças?
Aguinaldo José de Lima – Nosso maior desafio como associação é mostrar para o consumidor que o café solúvel é uma boa opção, é um bom café e quebrar paradigmas de qualidade. O consumidor precisa provar, experimentar, eu garanto que terá surpresas agradáveis. As empresas estão investindo nisso. Têm produtos maravilhosos, a Nestlé lançou recentemente o solúvel especial e muitas outras novidades estão à caminho.

Nós não queremos entrar no mercado de cafés fino, especiais, cada um tem seu mercado, seu nicho. As empresas estão fazendo blends de excepcional qualidade com cafés robustas, canéforas, finalmente tratados com o devido respeito pelo produtor, no que tange à qualidade. E a indústria da torrefação está descobrindo isso também. Se você for na Starbucks, por exemplo, várias de suas bebidas, tipo fraputtinos, são feitas com café solúvel!

Estamos ligados às demandas dos consumidores e com a vantagem de poder aplicar o café solúvel em qualquer coisa, na gastronomia, na mixologia, nos drinks. Vários cappuccinos são feitos com café solúvel, muitas cápsulas que têm algo além de café são feitas com solúvel também. E os cafés solúveis têm o seu momento na alimentação da população. Essa é a mensagem que o setor está levando.

Grão Especial – Explique a nova metodologia para avaliação da qualidade
Aguinaldo José de Lima – Estamos finalizando a nossa metodologia/protocolo de análise sensorial do café solúvel. O Brasil, como maior protagonista, tem obrigação de criar um protocolo, que não existe no mundo. As empresas têm os seus, e agora estamos criando um como o da SCA (Specialty Coffee Association) e a pontuação dos cafés. Em 2019, criamos um grupo de trabalho coordenado pela Eliana Relvas, especialista em avaliação sensorial e consultora da ABICS, com a participação da professora Aline Garcia, pesquisadora científica da Ital, Campinas. Unimos as sete indústrias, convidamos as grandes marcas 3Corações, JDE, Melitta, Nestlé, um especialista da Native e, na época, a rede de cafeterias Suplicy.

Ao todo, juntamos 15 profissionais, durante dois anos, que fizeram uma série de provas para a construção de uma metodologia e validações, aplicamos algoritmo, criamos um aplicativo onde o provador de café lança um atributo numa escala de 0 a 5, e esse algoritmo diz a categoria do café, não ao contrário. Ou seja, o café é realçado pelos atributos, tiramos a questão das notas, porque achamos muito confuso para o consumidor. A análise por notas acostumou os provadores a darem uma nota e depois irem encaixando os atributos. Queremos o reverso disso. Construímos o algoritmo com três categorias: convencionais, excelência e complexos. Cada categoria tem uma aplicabilidade para a indústria, cada empresa usa o atributo que quiser, doçura, amadeirado, floral, os mais relevantes podem ser destacados nos rótulos, que pode ter também qual a melhor aplicação, se é na gastronomia, no preparo de drinks etc.

Grão Especial – É um protocolo internacional?
Aguinaldo José de Lima – Sim, é internacional. Vamos levar essa mensagem para o consumidor, estamos trabalhando na criação de um selo para as embalagens, que irá definir a categoria do café e especifica os maiores atributos. Terá um QRCode, com vídeos da Eliana Relvas, instruções de preparo e será lançado até o final do ano, na SIC, Semana Internacional do Café.

O protocolo será internacional e vamos convidar jornalistas especializados do mundo todo para virem à SIC. Queremos que nossos clientes internacionais utilizem o protocolo porque facilita a conversa com nossos clientes, para a linguagem ficar mais fácil, para facilitar nosso negócio. E vai facilitar o entendimento junto ao consumidor do mundo todo também, claro. Vamos trabalhar junto aos baristas, às cafeterias, promover eventos e campeonatos, graças à parceria firmada com a Apex. A ideia é investir muito em educação, vamos treinar e certificar QGraders e AGraders e criarmos o Instant Coffee Graders, vamos fazer cursos para o público interno. Mas a ideia é que, com o tempo, a metodologia seja hospedada numa grande instituição, como o Senai, por exemplo, que desde o início nos dá suporte técnico. A Eliana Relvas vai coordenar os cursos e depois vamos formar outras pessoas do mercado. Mas, primeiro, os associados e seus colaboradores!

Grão Especial – No que consiste essa parceria com a Apex?
Aguinaldo José de Lima – A primeira parceria com a Apex foi o que chamamos de projeto estruturante, onde fizemos um trabalho de branding (marca nacional e internacional) para a ABiCS, criamos a plataforma AbICS Data, com informações estatísticas, um robô aglutina os dados de forma global consolidada dos números do Brasil, estatísticas do consumo do mercado interno, as empresas informam mês a mês e a plataforma consolida, sempre exigindo sigilo. Também contratamos uma assessoria permanente para mapear possíveis problemas que a gente pode vir a ter relevantes no mercado de café instantâneo. Ou seja, a primeira parceria com a Apex foi no sentido de estruturar as ferramentas. E o segundo é justamente comunicar ao mercado, mas fomos prejudicados pela pandemia. Mas a partir da SIC, o mundo vai saber o que estamos fazendo. Vamos convidar de 15 a 20 jornalistas internacionais especializados, mais os do Brasil, para conhecer a metodologia e visitar uma fábrica de café solúvel em Minas durante o evento.

Grão Especial – De que maneira a guerra entre a Rússia e a Hungria afetam o mercado de cafés solúveis?
Aguinaldo José de Lima – A guerra afetou muito o nosso mercado, estamos muito preocupados. A Rússia é um dos maiores consumidores de café solúvel no mundo e a Ucrânia é o sétimo. Juntos, representam 13,5% das exportações brasileiras de café solúvel, equivalente a 500 mil sacas. Esperamos que o conflito termine o mais rapidamente possível.

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