Guittard Chocolates comemora 150 anos de atividades

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Empresa foi fundada em São Francisco, na Califórnia, por um francês em busca do ouro

O nome Guittard (site) é muito pouco conhecido pelos brasileiros mas, para os americanos, a história é bem outra: Guittard é sinônimo de chocolate de qualidade em seu país de origem. A empresa foi fundada em 1868, em São Francisco, na Califórnia, pelo francês, Ettiene Guittard, que havia deixado a cidade de Tournurs, na França, na esperança de achar ouro na região de Sierra, Califórnia e, consequentemente, ficar rico. Pessoas do mundo todo acorreram para a região, cujo episódio ficou conhecido na história como a Corrida do Ouro da Califórnia, que durou de 1848 a 1855.

Ettiene Guittard

Etienne estava certo que também ficaria rico, porém, procurou por três anos e não encontrou nada. Em contrapartida, percebeu que os mineiros com mais sorte pagavam o preço que fosse para comprar bens de qualidade, incluindo alimentos. Como tinha trazido alguns chocolates franceses produzidos por um tio, na França, vendeu todas as barras e voltou ao seu país para se especializar. No retorno à Califórnia, fundou a Guittard, e passou a comercializar, além dos chocolates que fabricava, chá, café e condimentos para uma cidade que, até então, não passava de um pequeno vilarejo. Rapidamente, São Francisco transformou-se numa cidade próspera, com estradas, igrejas e escolas.

Gary Guittard

A Guittard cresceu junto com a cidade e, assim como ela sofreu grandes revezes como terremotos, grandes incêndios, as consequências do crack da Bolsa em 1929 e, apesar de tudo  continuou, ao longo de 150 anos, uma empresa familiar, cujo atual CEO, Gary Guittard, pertence à quinta geração da família e foi responsável pela parceria com um dos maiores bancos americanos, Wells Fargo, também uma das empresas mais antigas dos EUA, com sede na Califórnia.  Gary comanda a companhia juntamente com sua filha, Amy Guittard, Chief Marketing Officer da Guittar, e com quem conversamos com exclusividade.

Leia abaixo os principais trechos da nossa entrevista:

Guittard
Amy Guittard

1. Manter uma empresa de família por 150 anos é algo notável e, pelo que sei, trata-se da mais antiga empresa familiar americana. Como manter um negócio na família por tanto tempo?

É uma questão de paixão, compromisso e comunicação. Faço parte da quinta geração do negócio e, como tal, sinto uma extrema responsabilidade em manter a herança e as tradições que o meu tataravô estabeleceu, enquanto mantenho um olhar para o futuro e garanto que o negócio mantenha a relevância em tudo o que fazemos. Além disso, visamos limitar o número de proprietários. Trata-se de manter o equilíbrio de olhar para o futuro e, ao mesmo tempo, usar o passado para nos basear e nos lembrar de por que fazemos o que fazemos.

2. As empresas americanas de chocolate são boas em termos de lucro, mas não muito em qualidade. A Guittard aparenta ter seguido um rumo diferente para manter a boa qualidade em seus produtos. Como competir em um mercado tão acirrado?

Na Guittard, o sabor vem sempre primeiro. Não se pode fazer um ótimo chocolate sem bons ingredientes. Acreditamos que o produto final é tão bom quanto os ingredientes que o compõem, e por bom queremos dizer não apenas sabor, mas também a integridade social. Assim, nossas práticas de fornecimento e nossos métodos de elaboração são orientados pelo sabor.

No trabalho de campo, estamos comprometidos em proteger os sabores únicos e diversos do cacau de todo o mundo. À medida que os agricultores e a indústria lutam por maiores rendimentos e resistência a pragas, desempenhamos um papel fundamental no treinamento e capacitação dos produtores de cacau nos países produtores, a fim de reconhecer e proteger seus perfis históricos de sabor. Nós nos concentramos em melhorar os rendimentos sem comprometer o sabor.

Consequentemente, a geração de produtos Premium com foco no sabor e acesso ao mercado apoia os investimentos agrícolas e constrói a sustentabilidade de longo prazo do setor de cacau. Ao utilizar esses grãos de alto sabor em nossos produtos, celebramos sua herança e fornecemos aos nossos clientes um perfil de sabor único, sinônimo da marca Guittard. Chamo isso de evolução da arte: o agricultor confere seu próprio nível de arte ao cultivo e às práticas pré e pós-colheita do cacau. Nosso trabalho consiste em aplicar nossa arte para preservar esses sabores para que possamos entregá-la aos nossos clientes, que podem então levar essa contribuição de arte coletiva e fazer algo ainda maior do que o que começaram. É como diz o ditado: o todo é maior que a soma das partes.

3. Como vocês construíram um relacionamento com os produtores de cacau ao redor do mundo?

As relações com os agricultores são fundamentais para o nosso processo de fornecimento e preparo. Colaborar com os agricultores em práticas pré e pós-colheita permite levar a produtos de maior qualidade e, portanto, produtos Premium de maior qualidade, o que, por sua vez, gera sustentabilidade no longo prazo para agricultores e comunidades agrícolas. Estamos próximos de nossos parceiros de origem há várias gerações, viajando até os locais de origem para construir e manter esses relacionamentos. É parte integrante da nossa ética de fornecimento e elaboração. Estamos comprometidos em proteger os sabores únicos e diversos do cacau de todo o mundo. À medida que os agricultores e a indústria lutam por maiores rendimentos e resistência a doenças, desempenhamos um papel fundamental na formação e capacitação dos produtores de cacau nos países produtores para reconhecer e proteger seus perfis históricos de sabor. Trata-se de um produto final de qualidade, mas também da geração de renda para os produtores de cacau. Quando os agricultores podem gerar produtos Premium com foco no sabor e aumentar o acesso ao mercado, é possível também apoiar os investimentos agrícolas e construir a sustentabilidade em longo prazo do setor de cacau.

Acreditando na diversidade de sabores que vem de cada região cacaueira e nas condições únicas de cultivo em cada país, buscamos aumentar a visibilidade de todos os produtores de cacau. Para isso, estamos trabalhando com nossos fornecedores para aumentar a rastreabilidade em todas as nossas cadeias de suprimentos. Além disso, estamos trabalhando com organizações parceiras no impacto rastreável para que o trabalho colaborativo que realizamos com as comunidades agrícolas seja mensurável e impactante. Apoiamos e lideramos diversos programas globalmente em nossa cadeia de suprimentos que envolvem agricultores individuais e cooperativas agrícolas, projetados para garantir o sucesso em longo prazo das comunidades agrícolas com as quais fornecemos.

4. Por que é tão difícil mudar o mercado do cacau, de injusto para um mais justo? Como a Guittard ajudou nesse processo, principalmente em relação ao trabalho infantil?

Como uma empresa familiar há cinco gerações, trabalhar em estreita colaboração com as comunidades de quem adquirimos nossos grãos é uma de nossas principais prioridades. O trabalho infantil é um desafio social extremamente complexo, que requer a colaboração de diversos atores. Juntos, a indústria do cacau, as ONGs, os governos locais, o governo dos EUA e os grupos sem fins lucrativos vêm abordando essa questão há anos e continuam a fazê-lo, desenvolvendo iniciativas que devem reduzir a pobreza e melhorar as condições sociais e os meios de subsistência das comunidades de cacau em Gana e Costa do Marfim.

Nosso modelo Cultivate Better Cocoa (“Cultive um Cacau Melhor”) tem impacto rastreável até o nível da fazenda e é projetado a fim de garantir a participação das comunidades, garantindo a sustentabilidade no longo prazo para seus produtores de cacau e de suas famílias. Melhorar os fluxos de renda e meios de subsistência, bem como aumentar a presença das mulheres na tomada de decisões financeiras para a família, possui impactos positivos na redução dos casos de trabalho infantil. Continuamos o processo de fortalecimento da proteção infantil por meio de nossa participação ativa na International Cocoa Initiative (ICI), uma organização que promove a proteção infantil em comunidades produtoras de cacau. A ICI trabalha em três níveis diferentes – comunitário, nacional e internacional – a fim de desenvolver programas que promovem a educação e conscientização sobre a mitigação e remediação do trabalho infantil.

Trabalhamos com a Fair Trade USA desde 2007 e, em 2014, ampliamos nosso compromisso de apoiar organizações de agricultores e aumentar a renda dos agricultores, transferindo a maior parte das nossas linhas de produtos de varejo para a Certificação Fair Trade. O Comércio Justo faz uma diferença mensurável por meio do Prêmio de Desenvolvimento Comunitário da Fair Trade e das normas da Fair Trade, que incluem a proteção infantil. Recentemente, instituímos um modelo de cooperativa de beneficiários com a Fair Trade USA, o qual proporciona maior transparência e impacto nas cooperativas que se beneficiam de nossos prêmios e compromisso de Comércio Justo. Acreditamos que esses desafios complexos podem ser enfrentados de forma eficaz por meio de esforços coletivos, coordenados e consistentes de todas as partes envolvidas direta ou indiretamente na cadeia de suprimentos do cacau. Trabalhar com nossos fornecedores e também com organizações do setor e parceiros locais garante que estamos causando impactos duradouros. Embora os investimentos feitos por meio de certificações e parcerias façam a diferença, reconhecemos que temos muito mais trabalho a fazer em nossa jornada contínua pelo lema Cultivate Better™

5. Como você vê o cenário do cacau especial no mundo? E quanto ao mercado Bean to Bar nos EUA?

Utilizamos uma grande quantidade de cacau especial de todo o mundo e queremos proteger essas variedades Heirloom. As empresas Bean to Bar educaram os consumidores quanto à diversidade de sabores, o que é uma das razões pelas quais eles têm sido tão bons para a indústria.

6. A Guittard adquire o cacau brasileiro atualmente? E no passado? De quais países a Guittard compra cacau?

Compramos grãos de todo o mundo. O Brasil foi uma origem essencial para nós nos primeiros dias do nosso negócio. De fato, costumávamos comprá-lo mais de vinte anos atrás, mas a qualidade começou a sofrer, o que nos levou a deixar de comprá-lo na medida em que o fazíamos. Entretanto, para o nosso 150º aniversário, adquirimos cacau do Brasil como parte de uma mistura de cacau de edição limitada, que emula os tipos de grãos que adquirimos quando a empresa foi fundada, em 1868.

7. Qual a importância da sustentabilidade para a empresa?

Como uma empresa familiar de quinta geração, a sustentabilidade é central para nossa empresa. Apoiar o sucesso do setor do cacau e dos produtores de cacau é fundamental para a nossa abordagem colaborativa para a indústria. Como costumamos dizer, uma maré alta levanta todos os barcos.

8. O que os clientes da Guittard esperam de seus produtos?

Acredito que nossos clientes passaram a confiar na Guittard como uma marca que oferece qualidade, consistência e sabor de chocolate – com a consistência sendo uma das coisas mais difíceis de fazer. Temos o compromisso de construir essa confiança ao longo de nossos mais de 150 anos de história como uma empresa familiar.

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