Mission Chocolate, de Arcelia Gallardo, vai abrir sua fábrica de Bean to Bar na Califórnia

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Seu novo empreendimento será um combinado de fábrica, cafeteria e museu do Chocolate

Se empreender no Brasil não fosse tão difícil, com tantas taxas, burocracias e impostos extorsivos, muito provavelmente, Arcelia Gallardo, americana de nascimento, teria escolhido montar seu mais novo sonho por aqui mesmo. Mas não dá!

Então, no final do ano, em outubro, Arcelia vai voltar a Los Angeles, na Califórnia, de onde saiu há cerca de 5 anos com seu marido, para montar uma nova fábrica, dessa vez, cerca de cinco vezes maior do que a que ela mantém em sua casa, em São Paulo. E que comportará, também uma cafeteria e um Museu do Chocolate, cujo foco será educação, onde dará diversos cursos e viagens aos produtores de cacau ao redor do mundo. Além de exposições, como por exemplo, uma coleção de máquinas de pedra, onde os astecas produziam seus chocolates.

Mission Chocolate

Além de levar o país no coração, volta também acompanhada de duas brasileirinhas a tiracolo, suas filhas. “Minha vida será lá e aqui, não vou interromper completamente minhas atividades no Brasil. Temos o visto permanente, então vamos estudar uma maneira de passar uma parte do ano por aqui”, diz.

Para comprovar o que diz, conta que está acertando uma parceria com a Mestiço Chocolate, parceira em seus cursos, para que que suas receitas passem a ser fabricadas pela marca. “Minha fábrica na Califórnia vai se ocupar unicamente em abastecer o mercado americano”, adianta.

Como tudo começou

Seus pais são de Colina, no México, onde trabalhavam em fazendas, criando animais e plantando abacate e limão. Imigraram para os EUA em 1974, e foram morar em Los Angeles onde trabalharam em diversas fábricas, ora produzindo fitas K7 (quem lembra?), bolas de Natal, cintos para carro, enfim, onde houvesse trabalho digno lá estavam eles.

Já com os seis filhos formados, compraram em 92 uma fazenda na Califórnia, em Fresno, há cerca de quatro horas ao norte de Los Angeles e, hoje, aposentados, plantam ameixas e damascos. Aliás, a cidade é famosa por suas feiras de alimentos orgânicos o que, sem dúvida, influenciou de forma contundente todo o trabalho de Arcelia.

Antes de se interessar por chocolates, Arcelia estudou marketing em Berkeley, uma das mais importantes e prestigiadas universidades do mundo. “Nessa época, eu só comia Twix, comia muito e achava o melhor chocolate que alguém podia fazer. Só anos mais tarde, descobri que eu gostava era de açúcar, não de chocolate”, lembra.

Seu primeiro emprego foi na escola de gastronomia Le Cordon Bleu, em LA, onde começou a se interessar seriamente por chocolate. Conheceu a Schaffer & Berger, primeira fábrica de chocolates Bean to Bar dos EUA, numa reunião de trabalho e resolveu fazer o tour que eles ofereciam ao público, para mostrar como faziam os chocolates. “Foi só aí que percebi que, o que eu comia, não era chocolate”, conta.

Quando a Cordon Bleu fechou, Arcelia, que já fazia doces para seus amigos no final de semana, resolveu investir de verdade e montou uma doceria. Depois de um ano e meio, decidiu que já era hora de iniciar uma nova etapa e começar a produzir seu próprio chocolate. Só que, pelas leis sanitárias locais, não era autorizado produzir nenhuma comida no bairro, apenas vendê-las.

Mudança de País

Na mesma época, seu marido, americano de origem porto-riquenha, recebeu uma proposta do banco de investimentos Morgan Stanley, onde já trabalhava, para se mudar para o México ou Brasil.

O casal optou pelo Brasil, já que o mercado para ambos era maior e mais promissor. Arcelia viu na mudança uma grande oportunidade para aprender ainda mais sobre o cacau brasileiro, com a possibilidade de conhecer de perto as fazendas de cacau.

Decididos pela mudança, Gallardo vendeu sua loja e começou a se preparar para a viagem. Só que seu visto, que deveria ter saído rapidamente, demorou um ano. Nesse meio tempo, como não poderia ficar parada, descobriu a Dandelion, uma das principais fábricas de chocolate Bean to Bar dos EUA. “Toda vez que saía do meu apartamento, em São Francisco, passava na frente da Dandelion. No começo, quando se mudaram para o bairro, colocaram uma placa que me chamou muito a atenção, e que dizia apenas: “Chocolate Factory coming soon”(Em breve: fábrica de chocolate). A loja abriu e, como estava em ritmo de espera, resolveu um dia entrar na fábrica e pedir emprego. Aprendeu a fazer chocolate e, de quebra, ainda viajava para as fazendas de cacau. “Conheci todo o processo”, diz.

A chegada ao Brasil

Quando seu visto finalmente saiu, ela e o marido vieram para o Brasil e Arcelia começou a produzir seus chocolates Bean to Bar em seu apartamento, no Itaim. “Era pequeno e, para conseguir produzir, separei o processo frio do quente e fui vender na feirinha do Butantã, onde hoje é o Vila Butantan, no final da avenida Francisco Morato. Aluguei um pequeno espaço por quatro finais de semana e, para minha surpresa e decepção, não vendi uma única barra!!! Ninguém nunca tinha ouvido falar em Bean to Bar no Brasil, achavam o preço exorbitante e tive que desistir. Mas entendi que era preciso educar o brasileiro, ajudar a criar o mercado”, constata.

Começou, então, a fazer degustações de chocolates importados e pessoas que já tinham interesse na área ou já atuavam, começaram a aparecer, caso de Bruno Lasevicius, da Casa Lasevicius, a Cláudia Landman, da Chocolate du Jour, entre outros. Era um público ávido por novidades e por querer saber o que se estava fazendo no resto do mundo em termos de chocolate de qualidade.

Movimento Bean to Bar no Brasil

E, assim, Arcelia começou a ajudar diversos chocolate makers, bem como produtores de cacau, ávidos em melhorar o padrão de qualidade do cacau brasileiro. Um deles foi Rogério Kamei, da Mestiço Chocolate, ele mesmo produtor no sul da Bahia, Itacaré, proprietário da Fazenda Bonança, que já auxiliava outros produtores a fermentar melhor, secar menos, enfim, testando o chocolate em sua fábrica.

“Eu trouxe ao Brasil o especialista do Havaí, Daniel O’Doherty, da Cacao Services, que veio conhecer as fazendas e prestar consultoria. A Juliana Aquino, da Baiani, depois o contratou para sua fazenda, Vale Potumuju, e gentilmente abriu sua propriedade para outros produtores da região virem aprender como se produz cacau fino, cacau especial”, relembra.

Desse movimento todo nasceu o movimento Bean to Bar no Brasil e a associação, onde Arcelia é a presidente. “Cerca de três anos atrás, nenhum chocolate maker de respeito no mundo, vinha ao Brasil visitar ou comprar cacau daqui. Eles iam ao Peru ou a Belize, na América Central. Conseguimos mudar a percepção das pessoas quanto à qualidade do cacau nativo e o resultado é que diversos chocolate makers brasileiros têm ganho concursos internacionais, assim como profissionais de outros países também estão preferindo usar cacau do Brasil”, comenta.

Novos projetos

Assim que voltar aos EUA, vai abrir sua fábrica e, na sequência, sua cafeteria. Para ambos os empreendimentos, ela já possui o capital necessário. Para abrir o Museu do Chocolate, porém, cuja abertura está prevista para 2022, precisar atrair investidores para viabilizar o projeto. “Terei uma escola para ensinar a história do cacau, do chocolate, e ensinar como se faz um chocolate de verdade. Vamos fazer visitas às fazendas do Brasil, da Venezuela, do México, do Peru, enfim, onde houver boa produção de cacau fino, estaremos lá!

A herança da culinária brasileira em seus chocolates

Como uma estrangeira que aprendeu a amar e a valorizar o Brasil, Arcelia vem utilizando ingredientes genuinamente brasileiros nas receitas de suas barras. Prova disso é sua linha Sobremesas Brasileiras, composta pelos sabores Arroz Doce, Goiabada, Romeu e Julieta, Pão de Mel e Pamonha. Ainda esse ano, vai lançar uma barra de chocolate com farofa. “Demoro meses para fazer a pesquisa de sabores, visito os produtores, pesquiso em livros de receitas brasileiras, vou atrás. Tudo isso aconteceu porque eu vi que todo o mercado de Bean to Bar estava fazendo a mesma coisa. E o Brasil tem a maior diversidade do mundo, então, porque não aproveitar? Provei goiabada por um ano inteiro para achar a certa e colocar nas minhas barras”, relembra.

Mission Chocolate, abre fábrica de Bean to Bar

Mission Chocolate – Linha Sobremesas Brasileiras

Mission Chocolate, abre fábrica de Bean to Bar

Mission Chocolate – Linha Sobremesas Brasileiras

Mission Chocolate, abre fábrica de Bean to Bar

Linha Sobremesas Brasileiras

Linha Sobremesas Brasileiras

A Mission Chocolate também tem uma linha batizada de Biomas Brasileiros, com frutas como Cupuaçu, Pequi, Licuri, Baru etc., desconhecidas inclusive pelos próprios brazucas. “O Baru é o fruto do baruzeiro, árvore nativa do Cerrado Brasileiro, que produz uma castanha deliciosa e que só existe por aqui.

Como se vê, os ingredientes para criar suas barras, de 70%, 80% e 90% cacau, nunca foram problema, a não ser o leite. “O leite em pó de qualidade é o ingrediente mais difícil de encontrar no Brasil. Nos EUA, é fácil achar leite orgânico, fresco, vegano, de qualquer tipo. Eu gostaria de poder fabricar mais chocolates ao leite ou branco, um pouco mais doces, mais ao gosto do paladar médio do brasileiro”.

Mission Chocolate – Linha Sobremesas Brasileiras

Mission Chocolate – Linha Sobremesas Brasileiras

Onde encontrar os produtos Mission Chocolate

Ficou com água na boca pra provar essas delícias? Então, tenho uma boa e uma má notícia. O site da marca (www.missionchocolate.com) não está, no momento, vendendo seus produtos. Se estiver no Brasil, vai encontrar seus chocolates na LojaMod, na Casa Santa Luzia, na Chocolateria Origens, em Santos.

Já nos EUA, poderá encontrar na Chocolate Covered (www.Chocolatecovereddsf.com) – São Francisco, Monsieur Marcel (www.monsieur-marcel.business.site) – Los Angeles, na Roni-Sue’s Chocolates (www.Roni-sue.com) – NY, na Raphio Chocolate (www.raphiochocolate.com) – Fresno e Chocopolis (www.chocopolis.com) (Seattle).

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