25 “A erva mate além do chimarrão”
Por questões culturais, só se tomava chá no Brasil por recomendação médica. Em cada família, sempre havia alguém (geralmente do sexo feminino) que conhecia exatamente as funções curativas e as propriedades de cada um dos diferentes tipos. Não tinha nada de glamuroso, nem um pouco parecido com os serviços ingleses.
Até que, uma gaúcha com um sobrenome esquisito, Carla Saueressig, vendeu um apartamento e, em 1999, abriu uma loja de chás no Shopping Iguatemi, em São Paulo, A Loja do Chá – Tee Gschwendner, franquia da marca alemã, que foi a maior loja de chás da América do Sul.
Naquela época, o Iguatemi reinava absoluto, como a meca do luxo em São Paulo, e seu trabalho de harmonização com chás começou a mudar esse cenário. Carla empenhou todo o seu dinheiro e dedicação ao empreendimento, mostrando que era possível utilizar as ervas na culinária, em combinações mais simples tanto num bolo, como numa feijoada.
Virou referência na cena gastronômica, ensinando chefs estrelados a utilizar o chá como tempero, criou um curso de harmonização de chás com cervejas e vinhos. Na Associação Brasileira de Sommelier, foi por muitos anos professora de chás, além de criar sua própria metodologia.
O encerramento da A Loja do Chá
Enfim, se o mercado de chás existe no Brasil é graças ao trabalho dessa incansável batalhadora, que ama o que faz. Infelizmente, a Loja do Chá teve que ser fechada por conta de uma das incontáveis crises econômicas do país, deixando milhares de amantes do chá desamparados, afinal a loja também funcionava como um ponto de encontro. Na realidade, era uma verdadeira Disneylândia para os apreciadores: mais de 240 tipos, além de um menu gastronômico cujo principal ingrediente era o chá.
Com o fechamento da loja física, Carla voltou para Porto Alegre mas continua viajando muito, ajudando a refinar o paladar de muita gente, ministrando seus cursos e consultorias por todo o país, além de se dedicar à criação de blends de chás e infusões. “Já criei mais de 100 blends tanto para pessoas físicas quanto para empresas”, conta.
Erva mate: a nova antiga paixão
Como toda gaúcha que se preze, Carla ama a erva-mate e o chimarrão. Cerca de 10 anos atrás, foi atrás da erva-mate pura, em folhas, para fazer blends. Chegou até uma cidade chamada Ilópolis, no Vale do Alto Taquari (Rio Grande do Sul), cujo nome deriva da Ilex paraguaiensis e de polis, ou seja, Cidade da erva-mate. A economia do local é baseada no cultivo, extração e industrialização da erva-mate.
Com uma altura média entre 700 e 800 metros, o lugar possui cerca de 100 pequenas propriedades, familiares, com plantações nativas de erva-mate, cuja produção é orgânica. “Estou trabalhando em conjunto com a prefeitura, o Governo do Estado, a Universidade de Passo Fundo, em parceria com as empresas Inova Mate e Mate Quero, para ajudar os produtores a obter a erva-mate de alta qualidade, para usar só a folha para tomar o chá na xícara. É a erva-mate além do chimarrão”, explica.
“Nesse momento, estão sendo feitas pesquisas para descobrir os cultivares e suas características”, diz Carla. De qualquer modo, ela já montou uma caravana de amantes de chá para conhecer o local e, nos dias 6, 7 e 8 de setembro, sairá a segunda turma, com direito a colheita, palestra sobre o processo histórico de cultivo e muito mais! Para se inscrever, é necessário enviar e-mail para alojadochatg@gmail.com.
Na primeira caravana, os participantes degustaram erva-mate de diferentes biomas, como floresta, cítrico, orgânico misto e de diferentes cultivares como periquita, talo roxo e talo branco. “Tivemos o prazer de promover uma das primeiras degustações de erva-mate no Brasil. Nossos próximos passos são as experimentações: queremos cozinhar e fazer drinks com a erva-mate e alçá-la a uma categoria de produto especial, como o café e o chocolate, finaliza.
Como surgiu a erva-mate?
Os primeiros a fazerem uso da erva-mate foram os índios Guaranis, que habitavam a região sul do Brasil, definida pelas bacias dos rios Paraná, Paraguai e Uruguai, na época da chegada dos colonizadores espanhóis.
Fotos: Carla Saueressig