AbChá, Associação Brasileira do Chá, completa dois anos de atividades e comemora o aumento do consumo da bebida no mercado interno

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Os próximos passos são o de realizar um seminário presencial e colocar em prática uma parceria com uma Agência de Fomento internacional para disseminar as boas práticas na produção do chá nacional

O presidente da AbChá, o economista Caio Barbosa, sócio-proprietário da marca Chá Yê, (ler matéria aqui) especializado em chás especiais chineses, deu uma entrevista exclusiva para o Grão Especial, resumindo sua gestão que se encerra no final de julho. E contar sobre os avanços do consumo do chá no país, principalmente em função da pandemia.

Entrevista com Caio Barbosa – AbChá:

AbChá

Grão Especial – Já faz dois anos que você assumiu a gestão da AbChá. Praticamente o mesmo tempo da pandemia. Como foi que vocês conseguiram “sobreviver” num período tão conturbado, trabalhando para um organismo tão novo?
AbChá – Olha, posso dizer que não foi nada fácil. Tivemos os desafios pessoais, de sobrevivência, e também o da associação que praticamente foi criada poucos meses antes da primeira onda do coronavírus. Mas sobrevivemos com dificuldades, claro, como todo o mundo.

Grão Especial – De que forma a AbChá vem atuando?
AbChá – A primeira assembleia foi há exatos dois anos. Num primeiro momento, ficamos cerca de quatro a cinco meses estruturando a associação, montando as regras, a parte burocrática.  Algumas atividades da AbChá foram iniciadas em agosto de 2019, como por exemplo, a criação do grupo de Educação e Pesquisa. Como não tínhamos ainda o CNPJ, não tínhamos como arrecadar as contribuições dos associados e, sem dinheiro, fica difícil colocar em prática qualquer coisa. Tivemos que ser criativos.
A solução que encontramos foi a de engajar os profissionais do mercado por meio de dois grupos de trabalho: o de Educação e Pesquisa e o de chás brasileiros. Ambos produziram diversos materiais, escreveram sobre diversos temas ligados ao chá, gravaram aulas, fizeram entrevistas. Fizemos até um simpósio virtual sobre o tema. O bom é que como foi tudo online, temos todo esse material gravado, e que está disponível para os nossos associados. Inclusive convidamos algumas outras associações como a ABS, Associação Brasileira de Sommeliers e a ABKom, Associação Brasileira de Kombucha, para eles entenderam qual era a nossa proposta e de que forma poderia haver uma sinergia.

Grão Especial – A pandemia impossibilitou alguma ação que vocês tinham programado?
AbChá – Sim. Tínhamos ideia de promovermos um seminário anual, o que eu penso que é extremamente importante para o mercado do chá ganhar tração no Brasil. Afinal, esses eventos, e eu já participei de vários ao redor do mundo, são absolutamente necessários para promover os encontros dos profissionais, os produtos, conhecer as pessoas que estão exportando os chás, as que estão produzindo no país, enfim. A pandemia foi um contratempo grandioso, mas acho importante ressaltar que a AbChá sobreviveu, estamos crescendo, e os grupos de trabalho continuam produzindo material. É importante ressaltar que os grupos de trabalho, na minha opinião, precisam ter continuidade, pois são apolíticos, são mais importantes do que a gestão que está administrando a AbChá. A continuidade é um negócio muito importante.

AbChá

Grão Especial – Qual foi o mote do Grupo de Estudos dos Chás brasileiros?
AbChá– Este grupo, por meio de uma associada, a Claudia Santana, veio até mim como uma ideia muito boa, a de promover uma aproximação da AbChá com uma agência de fomento ligada ao Ministério das Relações Exteriores, do Governo Federal. No início das conversas, a proposta era o de uma parceria com o Malawi, na África Oriental, grandes produtores de chás. Depois, evoluiu para uma proposta de cooperação técnica com o Reino Unido.

Grão Especial – Por quê com o Reino Unido?
AbChá – Porque segundo a agência brasileira de fomento do Ministério das Relações Exteriores, o Reino Unido tem um forte histórico de cooperação técnica, várias de suas ex-colônias, atualmente são grandes produtores de chás, como é o caso da Índia, que muita gente pensa que produz chás há muito tempo, como os chineses, mas não é verdade. A produção indiana é relativamente nova, se comparada a dos chineses. A África do Sul, por exemplo, que também é uma ex-colônia inglesa, é, hoje, uma grande produtora de chás, a maior de Rooibos, por exemplo, também graças ao fomento inglês. Eles introduziram a cultura da camelia sinensis em praticamente todas as suas ex-colônias.

Grão Especial – E, num primeiro momento, como vai funcionar essa parceria?
AbChá – Bem, ainda estamos lidando com as burocracias de procedimentos dos órgãos, fizemos um ofício para a agência nos incluir dentro das entidades que ajudam a firmar essas cooperações. Eles já nos aceitaram, agora irão nos apresentar para entidades internacionais que queiram contribuir para o fomento do chá no país. Estamos nessa expectativa ainda.

Grão Especial – Mas, qual é o tipo de parceria que estão procurando?
AbChá – Num primeiro momento, será uma parceria pública, com órgãos do governo, basicamente voltado para a produção de chás no Brasil. Precisamos importar esse expertise para fomentar e elevar a qualidade dos novos chás brasileiros, do que estamos produzindo agora, para que possamos, num futuro, voltar a exportar chás de alta qualidade, promover os chás brasileiros nas competições internacionais etc. No futuro, nada impede que esse escopo mude, que grupos privados não possam participar, quem sabe construindo uma usina de beneficiamento no Vale do Ribeira, por exemplo. 

AbChá

Grão Especial – Essa é uma possibilidade muito interessante, não?
AbChá – sem dúvida! Precisamos de algo assim para fazer o mercado crescer. No momento, estamos trabalhando como formiguinhas. Mas uma iniciativa como essa é uma espécie de motor de arranque. Firmar uma parceria dessa natureza é injetar dinheiro de verdade no mercado, aproveitar a expertise e o know how de profissionais internacionais. Estamos bem animados.

Grão Especial – A produção de chá brasileira já foi muito importante, certo?
AbChá – Sim, muito! Nosso chá já teve seu auge, foi bastante sua produção por aqui. No final dos anos 80, começo dos 90, o Brasil exportava toneladas de chás. Mas nunca teve um mercado interno importante, como no caso do café. Então, quando vieram os planos econômicos, o Plano Real, principalmente, o chá brasileiro ficou muito caro e foi substituído pelos chás do Ceilão, do Sri-Lanka, da China. Como não havia mercado interno de chá, os produtores faliram e deixaram pra trás milhões de pés de camelia sinensis abandonados por aí, nas fazendas. E que foram e ainda estão sendo cortados para plantar milho, cana, muita banana, como no Vale do Ribeira, no interior de São Paulo.
Como a cultura do chá está vivendo um ressurgimento no Brasil, com o aumento significativo do consumo interno, de consumidores que valorizam o chá de qualidade, fico pensando o que aconteceria  num cenário ideal, com entidades de pesquisa científica como a Embrapa, que faz um trabalho primoroso com outras culturas, pesquisando o chá, os diferentes terroirs brasileiros, as melhores espécies, as microrregiões, podíamos plantar camelia sinensis no Cerrado, na Mata Atlântica em sistema agroflorestal, junto com o palmito e outras culturas.

Grão Especial – Sim, e você que viaja com frequência para a China para visitar os chazais sabe disso…
AbChá – Sem dúvida. Na China, quando você viaja de uma região para outra para visitar os chazais, percebe que numa floresta densa, úmida, perto de Yuham, são utilizados cultivares que crescem e se desenvolvem muito bem. E se você for para outras regiões que até nevam, também encontramos diferentes cultivares que oferecem chás maravilhosos e muito apreciados no mundo todo.

Grão Especial – Até o IAC (Instituto Agronômico de Campinas) já pesquisou sobre a camelia sinensis, né?
AbChá – Sim, no Vale da Ribeira. Existe uma parte dos cultivares que foram trazidos pelos japoneses. Mas uma outra grande parte foi desenvolvido pelo IAC nos anos 90. E o resultado foi maravilhoso e lá estamos a uma altitude baixíssima, diferente dos chás chineses, japoneses. A planta é super resistente, resiliente.

Grão Especial – Na primeira vez em que conversamos, você havia dito que uma das principais missões da entidade seria obter dados de mercado, de produção, consumo, Você conseguiu avançar na iniciativa?
AbChá – Sim, avançamos principalmente na coleta desses dados, mas eles ainda não tiveram um tratamento adequado. As informações macroeconômicas fazem mais sentido quando os dados são mais abrangentes. Falta entender se a gente consegue expandir isso ainda mais e tratar esses dados para transformá-los em reports para os associados.

AbChá

Grão Especial – Qual é o perfil do associado da AbChá?
AbChá – Na sua grande maioria, o pessoal que se aproximou da Associação é muito envolvido com chás especiais, são grandes apreciadores e também são professores seja com escola formal ou não. E esses associados, por sua vez, já formaram milhares de amantes de chás, que fizeram os cursos seja para entender melhor a complexidade dos sabores da bebida, seja para aprender as técnicas de processamento do chá, os cursos de sommelier. Elas se interessam cada vez mais pelos chás especiais e são propagadores dos chás. E é assim que o mercado amadurece!

Grão Especial – Na sua visão, qual seria o norte da Associação para o próximo mandato?
AbChá – Na minha visão, é o de continuar o trabalho desses dois Grupos de Trabalho (Educação e Pesquisa e Chás Brasileiros) que são fundamentais para o próximo biênio. E, passando a pandemia, a realização do Seminário presencial. E vou recomendar a criação de um outro grupo de trabalho para tratar e compilar os dados das pesquisas para serem apresentadas ao público em geral. Eu, como empresa associada, perceberia o valor agregado, caso conseguíssemos organizar boletins, dados, curiosidades sobre o mercado de chás.
E, também de incluir no conselho fiscal composto por presidente, vice-presidente, primeiro secretário e tesoureiro, mais dois cargos, o de coordenador de relações institucionais e o de coordenador de comunicação.

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