Chocolates bean-to-bar privilegiam a origem do cacau e a forma artesanal de preparo
A Casa Lasevicius (www.casalasevicius.com.br) – sobrenome lituano da família- é uma microempresa produtora de chocolates bean-to-bar dos irmãos Cláudia e Bruno Lasevicius. O chocolateiro da casa é o Bruno, psicólogo de formação e responsável pelo programa de música clássica da TV Cultura, “Clássicos”, que vai ao ar todos os sábados às 21h00.
Amante de Mozart, Bruno compara os bons chocolates a uma verdadeira sinfonia. “Tudo tem que estar absolutamente em ordem para se conseguir uma grande performance, como o chocolate”.
Começou fazendo alfajores e trufas influenciado pela irmã que, desde a faculdade já mexia com chocolates. Como a filha de Bruno trabalhava numa agência de publicidade, logo recebeu inúmeras encomendas. Em seguida, para conseguir resultados cada vez melhores, foi pesquisar os chocolates de origem, de Java, do Equador e tantos outros. Iniciou então, a produção de barras com chocolate belga, o Callebaut.
Descoberta ao movimento bean-to-bar
Foi então que percebeu que misturar essas preciosidades com doce de leite era uma heresia e, numa viagem à Califórnia, descobriu o movimento bean-to-bar. Sendo assim, se associou pra valer à sua irmã, que desenvolveu as embalagens e, aos poucos ajudaram a criar esse novo modo de se comer chocolates de qualidade. “Rompi um tendão e precisei ficar de licença-médica. Comecei a fazer umas experiências com o chocolate e nunca mais parei”, conta Bruno. Até hoje mantém as duas linhas de produtos ao mesmo tempo: os chocolates feitos com o chocolate belga Callebaut e os bean-to-bar.
Sobretudo, a paixão passou de pai pra filha e seu rebento, Maiana, agora morando na Califórnia, na cidade de Santa Cruz, também produz bean-to-bar, cuja marca é a Tiny House Chocolates.
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Casa Lasevicius – Produção
A Casa Lasevicius hoje vende para cerca de 50 pontos de venda em São Paulo, como Octavio Café , Maha Mantra, King of the Fork, Madalena Café, entre outros. “Não queremos crescer muito nem de forma desordenada. Acreditamos na arte do chocolate, onde tudo é produzido artesanalmente e em pequenos lotes, dos chocolates às embalagens. E não utilizamos nem conservantes nem aditivos industriais”, explica Bruno.
Começo difícil
Quando tomou contato com o movimento bean to bar na Califórnia, Bruno não sabia da dificuldade que teria ao voltar ao Brasil para conseguir equipamentos adequados. Claro que não achou e precisou usar toda a sua criatividade para desenvolvê-los.
Improvisou e, por uma dessas coincidências, na Bahia, os produtores de cacau estavam timidamente, produzindo cacau fino. O primeiro fornecedor que conheceu foi um francês que morava há 15 anos no Brasil, o Frederic, da fazenda Gran Sol, e que estava vendendo seu cacau pela Vila Madalena. “Na verdade, tive muita sorte porque o cacau era realmente muito bom”, lembra.
Depois, encontrou a fazenda da família Magalhães, também de Ilhéus, do Lajedo do Ouro. “Até hoje trabalho com eles, inclusive, no último bean to bar Brasil, nosso chocolate foi premiado”, conta Bruno.
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Chocolate “Bean to bar” Casa Lasevicius
Então, nesse ponto, as coisas começaram a melhorar: os próprios produtores tomavam a iniciativa de procurar a Casa Lasevicius para vender seu cacau. “Conheci, nessa época, um outro francês, David Pujol, da fazenda Ouro Verde, pertinho de Ilhéus e que tem uma fábrica de trufas na França. Ele é um fornecedor exclusivo da Casa Lasevicius.
Variedades no catálogo
Atualmente, a Casa Lasevicius compra cacau das regiões brasileiras, como Bahia, Espírito Santo e Amazônia. Possui em seu catálogo mais de 20 rótulos, e para chegar a esses resultados, Bruno testa a torra, a variedade do cacau e sua porcentagem, fermentação, demais ingredientes e qualquer ideia pode virar um produto pra lá de inusitado, como o chocolate com infusão de formigas içá-limão, colhidas por povos da Amazônia brasileira, na fronteira com a Venezuela e Colômbia. As formigas são colhidas de dentro do tronco de uma madeira e como se alimentam de capim cidreira, quando você morde, percebe uma explosão de sabores e o gosto prá lá de acentuado do capim cidreira. Deliciosamente refrescante!
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Chocolate Artesanal – Casa Lasevicius
E apesar de todas as dificuldades, a Casa Lasevicius, nesses três anos de atividades, vem crescido de forma significativa. “No primeiro ano, produzimos, 30 kg de chocolates bean-to-bar. No segundo ano, nossa produção dobrou e, no terceiro ano, chegamos a duas toneladas”, conta Bruno.
Os próximos passos são o de mudar a fábrica de lugar e, quem sabe, em breve, abrir uma chocolateria, junto a uma cafeteria, outra paixão de Bruno, que gosta tanto de cafés especiais que mantém em casa uma pequena coleção de máquinas de espresso.
“Quero também explorar o mercado de food service, um caminho bem interessante, também”, confidencia.
Como surgiu o movimento bean-to-bar
O movimento bean-to-bar nasceu como retaliação dos consumidores da marca de chocolates americana chamada Scharffen Berger, que produzia chocolate com cacau de origem e que foi comprada pela Hershey em 2005. Revoltados com a significativa piora da qualidade do produto, os antigos consumidores da marca resolveram eles mesmos pesquisar tecnologias para produzir chocolates de origem, o que acabou criando um novo mercado e abertura para pequenos produtores. Os chocolates bean-to-bar levam apenas cacau e açúcar em suas composições.
E é manufaturado de maneira meticulosa, em pequena escala, respeitando o tempo de cada uma das etapas de elaboração, com conhecimento das características do cacau e das técnicas de preparo mais adequadas para se chegar ao chocolate desejado.
Fotos e vídeos: Clodoir de Oliveira