Já ouviu falar dos chocolates Bean to Bar Akesson’s (pronuncia-se ôkesson)? Pois deveria! Suas barras estão entre as melhores do mundo

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Antes de produzir chocolates, seu fundador, Bertil Akesson já vendia suas produções de amêndoas para os melhores chocolate-makers do mundo.

Bertil Akesson – Créditos: Akesson’s

Bertil Akesson é um verdadeiro globetrotter. A cada dois anos, seu passaporte precisa ser trocado, graças às inúmeras viagens ao redor do mundo que é obrigado a fazer por conta de seus negócios.

Sua paixão por viagens aconteceu muito cedo, graças à profissão de seu pai, diplomata. Como a mãe era francesa, acabou nascendo em Paris, apesar da origem sueca do pai.

Ao se desligar do corpo diplomático, o pai já estava totalmente envolvido com os  inúmeros negócios da família, que iam do plástico, ao sisal, cacau etc. Mudaram-se primeiro para Camarões onde criaram uma trading.

Em 1970, a família mudou-se em definitivo para Madagascar, e os negócios cresceram de forma exponencial, quando assumiram o controle de diversas empresas de mineração e de sisal.

“Meu pai me chamou para trabalhar com ele em Madagascar, onde exerci o cargo de CEO. Permaneci por sete anos na função, dividindo meu tempo: seis seis meses nas propriedades rurais e o restante viajando ao redor do mundo para cuidar dos outros negócios da família.

Créditos: Akesson’s

Nesse período, o Governo daquele país havia nacionalizado uma grande parte das terras produtivas e ofereceu para que ficassem com parte delas, onde já havia uma grande produção de café, tabaco, cacau, baunilha e pimenta.

Bertil se apaixonou por essas culturas e investiu em produzir cacau, baunilha e pimenta da mais alta qualidade na fazenda. “Ocorre que, meu pai, que já estava com uma certa idade, se apaixonou, casou e morreu apenas três anos depois. E acabou deixando todos os bens para a sua nova esposa, inclusive as terras”, confidencia Bertil.

Créditos: Akesson’s

“Mas eu havia decidido que queria continuar investindo em pimenta e cacau de altíssima qualidade e consegui comprar de volta a fazenda de Madagascar”, conta.

Localizadas no nordeste de Madagascar, no Vale de Sambirano, suas propriedades (com 200 mil hectares e 600 empregados) foram divididas em quatro: Madirofolo, Menavava, Befojo e Ambolikapiky. Nessas duas últimas, planta o cacau fino que cresce junto com a pimenta que usa em suas barras e vende para os melhores chefs do mundo. Bertil produz também tabaco e café commoditie.

Créditos: Akesson’s

Produção de cacau na Bahia

Em 2008, Bertil resolveu viajar o mundo atrás de novas terras para aumentar sua produção. “Visitei fazendas para comprar na Costa Rica, no Panamá, no Equador, na Colômbia, enfim. Um dia, estava no Salon du Chocolat, em Paris, e conheci um brasileiro muito simpático (Ângelo Calmon de Sá, ex-dono do Banco Econômico), que me convenceu a ir ao Brasil conhecer suas fazendas de cacau, no sul da Bahia. Eu não estava nem um pouco convencido, porque no país, as plantações sofriam com a doença da vassoura de bruxa e, mais importante ainda, o cacau Forasteiro, mais popular por aqui, era conhecido por ser uma espécie de baixa qualidade. Principalmente na Europa, não tinha uma boa reputação”, conta.

“Vendemos cacau para os melhores chocolate-makers do mundo”

De qualquer modo, Bertil acabou aceitando o convite e se apaixonou pela Bahia e por uma fazenda em especial, a Sempre Firme. “Foi muito bacana, Ângelo e eu estávamos visitando várias propriedades até que o motorista que nos conduzia passou pela Sempre Firme e nos contou que o proprietário havia falecido recentemente”, diz.

“A Sempre Firme está encravada no meio da Mata Atlântica e tem apenas 120 hectares. Na época, estava procurando algo maior. Mas, como estava com problemas de caixa naquele momento e não teria como pagar a propriedade à vista, aceitei ser sócio de Ângelo, pelo conhecimento que ele possuía sobre o cacau. Ele adiantou o pagamento e seis meses depois, paguei-o de volta”, explica.

Bertil passa duas semanas por ano no Brasil, sempre durante a Páscoa. Uma em sua fazenda e outra viajando com sua família para conhecer melhor o país e sua cultura.

Angelo & Bertil Akesson em sua fazenda no Brasil. Créditos: Akesson’s

O empresário conta que tiveram que replantar todo o cacau por conta da vassoura de bruxa e, graças ao ótimo terroir, em três meses a propriedade estava como nova. “Fiquei muito impressionado com a capacidade e o conhecimento que os funcionários da fazenda tinham sobre a plantação. A Sempre Firme é como um pequeno paraíso para mim. Não é só o cacau, é também um grande encontro de pessoas que estão ali para produzir o melhor cacau e uma linda história”, se orgulha.

Como queriam preservar o passado e cultura locais, optaram por manter o varietal  Pará/Parazinho, da família do cacau Forasteiro, originário da América do Sul e mais  algumas outras  poucas variedades, mas todas com o foco apenas na qualidade. Quem toca a plantação é a filha de seu sócio, Cláudia Carvalho Calmon de Sá, responsável também pela produção das outras propriedades cacaueiras do pai.

A fazenda Sempre Firme possui 120 hectares e conta com 20 colaboradores, todos em regime de CLT. Créditos: Akesson’s

As famosas barras de chocolate Bean to Bar Akesson’s

Bertil já estava vendendo seu cacau para os principais chocolate-makers da Europa mas uma coisa o intrigava: muitas vezes, todo o cuidado que tinham na fazenda com a produção de cacau, não aparecia satisfatoriamente nas barras que degustava. “Eu ficava intrigado, queria entender o processo pela minha própria experiência, interpretando as amêndoas que eu cultivava. Por outro lado, queria sentir na pele os dilemas dos chocolate-makers que eram meus clientes.” conta.

Resolveu, então, fabricar ele mesmo seu chocolate. Contratou um chef e, em 2008, iniciou a produção numa fábrica instalada numa pequena cidadezinha a oeste de Paris. “Me considero muito mais um produtor de cacau do que um chocolate-maker”, diz. Devo confessar que não sou muito bom para mexer nas máquinas, mas, em contrapartida, tenho boas ideias”, diz.

Contou também com a generosidade de François Pralus, www.chocolats-pralus.com que o ajudou a entender como se faz chocolate. “Eu realmente entendi o que era um bom chocolate, os sabores e as diferentes origens, com François. Existem duas maneiras de se fazer chocolate, a francesa, que leva adição de manteiga de cacau e a maneira americana, das novas marcas, sem adição de manteiga de cacau. Gosto das duas por diferentes razões”, pondera.

Atualmente, produz 12 barras diferentes, todas premiadas internacionalmente e vende as amêndoas para os mais premiados chefs do mundo.

A Akesson’s produz 400 toneladas de cacau por ano e 10 toneladas de chocolate da marca própria. Créditos: Akesson’s

Pioneirismo

Bertil foi o primeiro produtor de cacau fino a utilizar suas próprias amêndoas de cacau para fazer sua própria barra de chocolate. “Muitos diziam que isso não ia dar certo, que eu estava competindo com os meus clientes. E eu argumentava que não, pelo contrário. Que só queria entender melhor o processo para facilitar o trabalho dos meus clientes”, conta.

Lembra que foi também pioneiro em produzir uma barra de chocolate com cacau de origem única, sem blends, a criar uma barra de chocolate com pimenta, a utilizar em suas receitas açúcar de cana de açúcar, a inventar uma barra de chocolate branco de origem única, a fazer manteiga de cacau com suas próprias amêndoas e muito mais. E ele tem muito orgulho de suas conquistas!

Marca de chocolate Bean to bar sueca que utiliza as amêndoas de Bertil Akesson. Créditos: Akesson’s

Prêmios, então, ganhou vários, mas não chamam mais sua atenção. “Decidi não concorrer mais em 2018, hoje em dia todo o mundo ganha prêmio, não tem mais graça”, diz.

De qualquer forma, continua os recebendo indiretamente, já que inúmeras marcas como Aruntam, Misina Cokolada, Green Bean to Bar, Sweet Scalier etc. foram premiadas em 2019 no International Chocolate Awards.

Suas amêndoas de cacau são utilizadas pelos maiores chefs do mundo, como Alain Ducasse, Troigros, Thomas Keller, entre outros. Créditos: Akesson’s

Futuro

No momento, tem crescido seu interesse pela produção de cafés especiais. “Como minha esposa é mexicana, estou procurando uma fazenda para comprar no México para produzir pequenos lotes de cafés especiais. Creio que posso contribuir para a melhora da produção naquele país”, explica. Perguntado porque não investir em café no Brasil, diz que a nossa produção já é muito sofisticada e cara. “Vou contribuir mais se montar um time mexicano para cuidar de seus cafés”, argumenta.

Conheça as barras Akesson’s (Importante: elas não estão disponíveis para venda no Brasil):

100% Forasteiro Cocoa & Cocoa Nibs – Fazenda Sempre Firme

75% Trinitario Cocoa & Wild

43% White Chocolate

75% Forastero Cocoa & Coffee nibs

Akesson's

Créditos das imagens: Akesson’s

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