Em março, fará uma expedição até Manicoré, no rio Madeira, com diversos especialistas, para criar protocolos de pós-colheita específicos para o cacau da região
O biólogo, Artur Bicelli Coimbra, quando estava cursando seu mestrado em sustentabilidade pela Universidade Federal da Amazônia, UFAM, tinha planos de criar uma empresa para trabalhar com alimentos amazônicos em geral. Chegou até a criar uma formulação para produzir vinho de açaí e a criar a marca, Na Floresta, Produtos Amazônicos.
Mas no meio do caminho, tinha uma pedra. Ou melhor, um cacau. E, antes de diversificar sua linha, apostou primeiro na fruta. Começou a pesquisar e a planejar e, em janeiro de 2017, lançou a Na’kau, de chocolates bean to bar, feitos exclusivamente com cacau nativo de diversas regiões da Amazônia, o mais antigo e selvagem do mundo.
Hoje, a Na’kau é a primeira e única fábrica de chocolates da Amazônia, que processa o chocolate a partir das amêndoas de cacau, utilizando recursos naturais. “Criamos a Na’kau para valorizar a mulher e o homem da Amazônia, ao mesmo tempo que pagamos um preço justo pelo valor dos produtos. Cansamos de ver o descaso com a floresta, o desrespeito com os povos da Amazônia e a quantidade de produtos convencionais e envenenados que consumimos hoje”, enfatiza.
“Nosso primeiro ano foi muito difícil, o segundo também, mas agora, com uma produção de cerca de 400 kg de chocolate por mês, conseguimos nos pagar, graças aos 140 pontos de revendas, espalhados por 16 estados brasileiros e a importação para o Japão, EUA e Portugal”, conta Artur.
Para o biólogo e empreendedor, a grande dificuldade para a empresa crescer é a logística. “Como uma empresa amazônica, a maioria dos pontos de venda está fora da região, o que faz com que percamos de 15% a 25% de nossa margem de lucro no transporte dos chocolates que saem daqui de avião, em embalagem especial”, explica.
Produtos Na’kau
Atualmente, a Na’kau possui cinco funcionários e três sócios. Artur é o sócio-fundador, utiliza um investidor anjo e, Leandro de Oliveira, o primeiro colaborador que virou sócio também.
A Na’kau possui duas linhas de produtos: a Origens e a Parcerias Sustentáveis. A Origens possui barras com 54%, 63%, 72% e 81% de cacau, de 40 gramas e pacotes de 1 kg destinadas ao mercado BtoB.
Já a linha Parcerias Sustentáveis conta com cacau a 72% combinado com pimenta Baniwa, um blend de pimentas desenvolvido de forma milenar pelo povo indígena de etnia Baniwa. Para eles, a pimenta Jiquitaia Baniwa tem importante papel nos rituais de passagem para a vida adulta, trazendo proteção contra os mundos invisíveis.
Outro produto da mesma linha é a barra 72% de cacau combinada com cupuaçu, fruta amazônica pertencente à mesma família do cacau. Conta também com a barra 63% cacau combinada com café Apuí, conillon, agroflorestal, produzido por agricultores familiares do sul do Amazonas e, por último, o 63% cacau com castanha do Pará.
Em busca do cacau mais puro
Para garantir a qualidade do cacau, desde o início, a empresa investiu em viagens pela região para descobrir bons fornecedores. A marca nasceu com quatro deles e, hoje, já são oito, que plantam o cacau às margens dos rios.
“Trabalhamos com os mesmos produtores há cerca de cinco anos, com educação, sensibilização, capacitação, treinamento, manejo etc. Esse ano estou indo para o Alto Amazonas, região de fronteira com a Colômbia, atrás de um cacau diferente. Quero ver, entender que cacau é, descobrir seu sabor e testar”, explica o biólogo.
Artur acredita que na Amazônia brasileira deve haver incidência do cacau crioulo da Venezuela, conhecido como Porcelana. E justifica: pela morfologia do fruto, que é branco por dentro, ele deve ocorrer aqui também, já que estamos no berço do cacau. A minha busca é primeiro achar as manchas de lavouras da cultura, às margens dos rios, e estudar qual foi o caminho que ele fez pra chegar lá”, diz.
Nova expedição
Em conjunto com seu distribuidor do Japão, a Ama-Ama, Amamos Amazon (www.ama-ama.jp), mais a ONG japonesa, Curumim (www.curumim-jp.org), Artur, uma professora da UFLA – MG, especializada em fermentação de cafés e cacau, e outros 10 profissionais, estarão participando de uma expedição até Manicoré, no rio Madeira.
Com saída de Manaus marcada para 11 de março, o grupo vai navegar em linha reta por cerca de 900 km fazendo uma viagem-piloto para identificar a qualidade do cacau e estudar a melhor forma de seu beneficiamento, específico para a região. “De forma geral, a pós-colheita da fruta precisa ser adaptada para a Amazônia, levando-se em conta a umidade, temperatura e variedade do cacau.
A viagem tem previsão de duração de uma semana, e irá resultar na criação de um relatório detalhado e de que forma esses contatos podem evoluir, num segundo momento, para identificar novos fornecedores”, conta Artur.
“A Na’kau já investia nesse tipo de viagem exploratória mas, agora, estamos agregando novos players. Juntamente com nossos parceiros internacionais, iremos criar uma outra empresa, sob o guarda-chuva da Na Floresta Alimentos Amazônicos, que ficará responsável por revender o cacau para os chocolatiers, principalmente os do mercado bean to bar que está crescendo de forma exponencial no Brasil”, finaliza.
Onde encontrar:
No Brasil, os chocolates da Na’kau podem ser encontrados na Casa Santa Luzia, no box do Alex Atala, do Mercadão de Pinheiros e no Coffee Lab, que o utiliza para fazer harmonização de café, chocolate e queijo, todos em São Paulo. Outros endereços, acesse (www.nakau.com.br).
Nos EUA, pelo distribuidor de Seattle, o e-commerce CCC – Culinary, Culture, Connections, (www.culinarycultureconnections.com).