É possível ganhar dinheiro trabalhando com cafés especiais fora do Brasil? Conheça a história do paulistano André Di Bonaventura

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André e sua esposa, Vanessa, criaram a marca Bona Coffee Roasters em 2017, e torram cafés especiais do mundo todo, inclusive do Brasil, em Boulder, no Colorado, EUA. E o maior desafio, segundo eles, é a concorrência!

Em tempos tão caóticos como o atual, muito brasileiro sonha em empreender fora do país, assim como foi o caso de André Di Bonaventura. Amante de cafés desde cedo, a avó italiana adorava tomar seu cafezinho preparado na Bialetti juntamente com o neto. O acaso fez com que criasse um forte laço de amizade com a Rita e o Felipe Croce, da FAF, Fazenda Ambiental Fortaleza, quando ainda eram crianças. As famílias eram vizinhas em Ubatuba, litoral norte de São Paulo, e passaram muitos verões juntas.

Criado no bairro da Granja Vianna, em Cotia, na Grande São Paulo, André já se achava um “coffee snob” mesmo sem ter provado cafés especiais, o que aconteceu quando visitou a primeira vez a fazenda da FAF (ler matéria aqui), em Mococa, interior de São Paulo. “Sempre que podia, ia visitar a fazenda deles, depois frequentei a cafeteria Isso é Café, me aproximei bastante deles”, conta.

Bona Coffee Roasters

Um amigo Granjeiro foi morar em Boulder, no Colorado, e André e sua família foram visitá-lo e se apaixonaram pela região. André voltou pra Boulder em outra ocasião pra estudar inglês e fazer um curso de vídeo e voltou ao Brasil para finalizar a faculdade. Por aqui, pensava muito em abrir uma cafeteria mas, como na época tinha uma banda de rock, a Fabulosa Banda do Coringa (disponível no Spotify), com influência declarada dos Los Hermanos e de David Matthews Band, o máximo que conseguiu foi se tornar o responsável em fazer o café da troupe.

Bona Coffee Roasters

Um ano depois de seu casamento, cansado do trânsito da Raposo Tavares e de São Paulo, resolveu se mudar de vez para Boulder, com a vantagem de que já conhecia a cidade, sabia que iria encontrar uma excelente qualidade de vida e muita vida ao ar livre. “Sabia que Boulder já tinha algumas cafeterias de cafés especiais e eu e minha mulher pensamos que seria o lugar ideal para montarmos uma torrefação”, diz.

Legenda: “Boulder é uma cidade de quase 110 mil habitantes, no estado do Colorado, com uma população de alto poder aquisitivo. Recentemente, em função da Pandemia, muitos empregados das Big Techs como Apple, Google, Twitter e Facebook, mudaram-se para a cidade e arredores por conta dos altos custos de aluguel na Califórnia”, explica.

O investimento

Criaram a Bona Coffee Roasters (@bonacoffeeroasters) com um investimento de US$ 250 mil, que incluiu a compra do um torrador Loring Smart Roast de US$ 80 mil, www.loring.com, produzido na Califórnia. Seu principal diferencial é ser uma máquina sustentável, já que a chama do torrador não fica em contato direto com o grão, que é aquecido apenas com o ar quente produzido por uma espécie de ciclone, localizado na parte de trás da máquina. A fumaça sai para o ambiente limpa, sem gerar resíduo ambiental.

Para atender às exigências do mercado americano, que é altamente profissionalizado, passou a conviver mais de perto com o pessoal da SCA (Specialty Coffee Association), fez inúmeros cursos e treinamentos, visitou todas as feiras e exposições sobre o tema, para estreitar o relacionamento, inclusive com produtores de outros países além do Brasil.

A torrefação atende a demanda dos clientes do serviço de assinaturas da marca,  de restaurantes e cafeterias locais e está equipado com uma sala de teste e um laboratório, que é também utilizado para os cuppings abertos aos sábados pela manhã. “Fizemos uma parceria com o Airbnb, que possibilitou receber coffee lovers do todo o país. Além disso, utilizamos também o espaço para cursos, onde ensinamos latte art, entre outras coisas. A verdade é que tentamos ajudar os estabelecimentos locais, uma vez que por aqui muitas pessoas que não são baristas de formação acabam fazendo o papel de. Então, percebemos essa dificuldade e oferecemos nossos conhecimentos”, conta.

No mesmo prédio, a parte da frente é utilizada para atender clientes to go. Um mês antes da pandemia estourar, fecharam uma parceria com a cervejaria Sanitas Brewing Co. www.sanitasbrewing.com, para administrarem um pequeno coffee shop dentro do local. Tiveram que fechar após 30 dias mas, desde o ano passado que estão a pleno vapor e procurando outros locais para replicar o modelo. “Deu muito certo, e esta é uma forma dos pequenos empreendedores de Boulder se ajudarem, uma vez que os aluguéis aqui são caríssimos”, explica.

Das 10 sacas que torram por mês, cinco são de cafés especiais brasileiros, o restante são origens diversas como Sumatra, Quênia, Guatemala, Colômbia etc. “Uma das grandes vantagens em se trabalhar dos EUA é que aqui temos acesso a todos os melhores cafés do mundo e podemos experimentar e criar blends sensacionais”, conta André entusiasmado.

Futuro

Os planos são de crescer com a abertura de novas cafeterias dentro de outros estabelecimentos e, claro, manter os restaurantes e cafeterias que já estão na casa, trabalhando com os cafés da marca. “Esses clientes estão conosco há quatro anos, desde o nosso início. O que percebo é que alguns estabelecimentos estão começando a torrar seus próprios cafés, acho que é uma tendência que precisamos ficar atentos. De qualquer forma, podemos ajudar na formação desses profissionais “, esclarece.

Nesse momento, trabalham na casa seis profissionais, sendo três baristas e um profissional especializado na torra, além do André. A Vanessa se ocupa da parte menos glamurosa mas não menos importante, que é a parte burocrática, das vendas online e das mídias sociais.

Linha de produtos

Sua linha de produtos é composta por três a quatro blends e quatro a cinco origens únicas. O best-seller da marca é o Sant’Omero Espresso Blend, batizado com o nome da cidade de origem do seu avô, na Itália. É um blend cuja base é feita com café especial brasileiro e africano. Outro sucesso é o Curupira Breakfast Blend, e o Jobim House Blend.

Na linha de origens únicas, os destaques são o Yargachefe, da Etiopia, o Sumatra, o Bob-O-Link e o Bob-O-Dark, ambos de cafés brasileiros.

As embalagens

Criadas pela agência brasileira Aldeia Ideias www.aldeiaideias.work, as novas embalagens dos cafés da Bona Coffee Roasters são um show de brasilidade à parte. Gabriel Hardt, o criador, explica que o briefing era sair das embalagens de papel kraft absolutamente iguais a muitas outras para algo que apresentasse um caminho próprio. “A minha aposta foi buscar uma maneira de enaltecer a cultura brasileira. Para isso, comecei buscando elementos da cultura até chegar a diversas regiões produtoras de café no Brasil. E, uma delas, era a Serra do Cigano, em Pernambuco, que é também a terra da cultura do cordel. Sem me apropriar, claro, me inspirei no cordel e no seu processo de entalhe de madeiras para desenvolver diversos desenhos, inspirados no dia a dia das pessoas nas fazendas de café, seja na volta ao trabalho, na seleção dos grãos, etc.”, conta.

Bona Coffee Roasters

O resultado é que Gabriel mergulhou fundo no arcabouço da cultura popular brasileira e teve a ousadia de misturar Tarsila do Amaral, revisitada, diga-se de passagem, com o cordel. Em outro desenho, os grãos do café se tornam a Constelação do Cruzeiro do Sul. Num terceiro exercício, o artista faz do beija-flor o elemento principal, sempre utilizando a cor amarela, que não está acompanhada do verde mas mesmo assim exalta totalmente a brasilidade, diferenciando por completo as embalagens, dignas de prêmio.

Bona Coffee Roasters

As etiquetas das embalagens também foram desenvolvidas por cores baseadas na roda de sabores da SCA, para diferenciar os tipos de cafés.

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