Essa é a avaliação do pesquisador da área de Mudanças Climáticas Globais e coordenador do Portfólio de Pesquisa em Mudanças Climáticas e Agricultura da Embrapa, Giampaolo Queiroz Pelegrino, entrevistado exclusivamente pelo Grão Especial.
Pelegrino acompanha as COPs, Conferência das Partes, desde a de Copenhagen, realizada em 2009. A primeira aconteceu em Bonn, na Alemanha, em 1995. Neste sexto relatório, 195 países assinaram o documento, incluindo o Brasil, e mais de 14 mil artigos científicos foram consultados.
Confira:
Grão Especial – O que são esses relatórios? E o que esse último tem de novidade?
Giampaolo Queiroz Pelegrino – Um dos papéis do IPCC é montar relatórios, como este último, que saiu no dia 9 de agosto, abordando vários cenários possíveis para que cada país avalie as políticas aplicáveis para a sua realidade e que esses resultados sejam discutidos em um âmbito global. Esse último relatório demonstrou cientificamente que a ação do homem é responsável direto pelo aquecimento global. A meta do Acordo de Paris era que os países precisavam mitigar suas ações para que a emissão de carbono ficasse em, 1,5º. C e o relatório mostra que a meta dificilmente será alcançada. “Se nós continuarmos como estamos, sem reduzir nossas emissões de carbono, a gente vai ultrapassar e muito a meta estabelecida no acordo de Paris de ficar abaixo de 2º. C. A gente chegaria a 2,5, 3o. C, se continuarmos emitindo como estamos. Se a gente aumentar a emissão de carbono aí a gente chega a 4º.C, de acordo com o relatório.
E se nós, por outro lado, formos na tendência de zerar nossas emissões aí o aumento ficaria nos 1,5º.C, 1,7º.C, 1.8º.C. Aí estaríamos dentro do Acordo de Paris. Mas, para chegarmos a 1,5º.C teríamos que ter emissões negativas em relação ao período de referência. Essa é outra informação bastante importante do relatório e, talvez, um terceiro ponto a destacar é que eles trazem com mais evidência no trabalho, a questão da intensidade dos eventos extremos. Eventos extremos são ondas de calor, secas mais prolongadas, enchentes. Um desbalanço. Um outro ponto a destacar no relatório é a responsabilidade humana nas emissões de CO2. Nas projeções mais pessimistas, a temperatura média global pode aumentar 4º C.
Grão Especial – De que forma a agricultura brasileira sentirá as mudanças climáticas daqui pra frente?
Giampaolo Queiroz Pelegrino – A atividade agrícola é totalmente dependente do clima, e também, por outro lado, ela também é uma emissora de gás carbônico. Dessa forma, é necessário estudar, reduzir ou se adaptar às mudanças climáticas para que o Brasil também possa fazer seu papel na diminuição das emissões. Existem maneiras de contribuir para a diminuição das emissões na agricultura, como por exemplo, através das práticas do plano ABC – Plano de Agricultura de Baixo Carbono, que fala de sistema de plantio direto, integração da pecuária, fixação biológica de nitrogênio, recuperação de pastagens degradadas, manejo de resíduos, balanço hídrico ediversidade, trazendo rentabilidade. São ações que reduzem as emissões e ajudam na adaptação da agricultura para os novos cenários.
Grão Especial – Explica um pouco como vocês trabalham com base nos relatórios do IPCC.
Giampaolo Queiroz Pelegrino – sobre os impactos das mudanças climáticas, trabalhamos com a simulação dos trabalhos futuros, ou seja, a partir dos possíveis cenários do relatório, usamos os cenários climáticos futuros como uma entrada para os nossos modelos de crescimento de plantas, ou seja, como as plantas se comportam em função do clima. São modelos agrometeorológicos que expressam o crescimento da planta, a partir das mudanças climáticas. Modelo usado, por exemplo para o zoneamento agrícola de risco climático. Analisa-se a história passada e analisa-se o risco de determinadas culturas, em determinado solo, produção etc. O que dá base para a política agrícola de zoneamento, para oferecer crédito e seguro agrícola para os agricultores para regiões onde o risco é baixo, aceitável.
No relatório anterior, fizemos simulações de nove culturas, estudando quais seriam os impactos no aumento da temperatura para o desenvolvimento nessas culturas. Agora, precisamos absorver os novos dados, desse último relatório e fazer novas simulações.
Para ajudar o agricultor a superar esses desafios é necessário que se faça a transferência do conhecimento diretamente para ele, como estamos fazendo aqui. Além é claro, de divulgar as publicações científicas e não científicas. Precisamos transformar as informações nascidas na ciência, numa linguagem que o agricultor consiga entender. Além da difusão, é necessário buscar tecnologias mais avançadas. O produtor vai em busca de conhecimento e de soluções. Essencial é a definição de políticas públicas para a redução de emissões de carbono no Brasil.
É importante salientar que o relatório do clima Relatório não faz previsão. Ele trabalha com dados científicos na construção de cenários. As projeções levam em consideração os vários cenários futuros plausíveis. Mas tudo vai depender do que a gente fizer, quais ações o país vai tomar.
Grão Especial – Como o Brasil está nessa batalha contra o aquecimento global?
Giampaolo Queiroz Pelegrino – Sou otimista. O Brasil tem uma matriz energética relativamente limpa, temos alternativas como a energia elétrica, solar, eólica, temos o domínio dessas tecnologias. Ela precisa ser ampliada e está sendo. Temos o Proalcool, uma alternativa real ao combustível fóssil. Estamos numa posição boa. Ainda temos grande parte da cobertura vegetal nativa, temos lastro global, somos uma potência ecológica.
Fizemos diversos esforços significativos, oscilamos agora, o importante é que precisamos combater nossa inconstância nas nossas ações. A Europa e os EUA são mais constantes. Temos que ter foco no longo prazo, os efeitos são sempre de longo prazo. Precisamos corrigir algumas rotas. Nosso problema é o desmatamento, é a Amazônia. Acompanho a COP desde a de Copenhagem, em 2009. Não participei de apenas duas. Acredito que, em Glasgow, o Brasil vai sofrer uma forte pressão associada ao desmatamento. Vai haver uma grande pressão na agricultura, mas que também pode ser uma grande oportunidade de abraçarmos práticas mais limpas, que gerem menos emissões de carbono. O direcionamento está dado. Temos condições de alcançar nossas metas internas para contribuir efetivamente. Mas precisamos nos organizar para concluir essas ações.