Fazenda São Pedro do Pardinho

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Encrustrada na Cuesta de Botucatu, a Fazenda São Pedro do Pardinho, dos Cuesta Café, trabalha para, em breve, colher cafés especiais biodinâmicos.

Vindo de São Paulo em direção ao município de Pardinho, é necessário sair da Castelo Branco no km 193 e pegar à direita a rodovia João Emílio Roker. Na primeira curva à esquerda, o visitante se depara com um oásis: a Cuesta Café (www.cuestacafe.com.br), uma cafeteria no meio do nada, sobretudo, com uma vista de tirar o fôlego.

Certamente é a desculpa perfeita para dar uma relaxada e experimentar um espresso, um cappuccino ou até mesmo um affogato ou um cold brew. A escolha é sua.

Ao lado da Cuesta Café, a fazenda

A propriedade de 400 hectares é da família Pinotti há mais de 60 anos. Oriundos da Itália, logo no início, já plantavam café e cultivavam o gado. Hoje na terceira geração, o jovem empreendedor Yuri Pinotti toca a fazenda cuja verdadeira vocação é o café.

Com uma altitude entre 900 e 1050 metros, a propriedade possui um dos maiores reservatórios de água doce e potável disponíveis da região. Possui 12 nascentes e uma cachoeira e é cercada pela Mata Atlântica. Em função do clima, com temperaturas médias anuais de 19,5 o.C, a colheita é mais tardia do que no resto do estado.

Dos 400 hectares, 150 são área de preservação e 100 hectares de café, sendo que 15% é de cafés especiais. É considerada uma propriedade de tamanho médio, que produz cafés de excelente qualidade. É semi-mecanizada sendo que na época do colheita trabalham 18 pessoas e no restante do ano, 10. Sua produção é em torno de 1.800 sacas de café por ano.

As espécies plantadas são o Catuaí amarelo ( maior parte) e o Acaiá ( mistura de Bourbon com Típica), cuja maturação é mais precoce. “Também estamos fazendo uns experimentos com uma pequena plantação de Laurina, que tem naturalmente menos cafeína na planta. No futuro, também teremos ibari, uma planta com uma bebida muito boa, porém, com baixa produtividade”, explica.

Os cafés especiais

Na fazenda São Pedro do Pardinho, são produzidas oito sacas de cada microlote, cereja natural colhidos manualmente. Os descascados são produzidos apenas em maiores escalas.

“Temos uma parte do nosso café com o selo orgânico e outra convencional que está em transformação para o biodinâmico”, conta um entusiasmado Yuri. E a razão é muito simples: qualidade e responsabilidade. O brasileiro consome 5,2 kg de defensivos agrícolas por ano ou um galão de cinco litros cada um, de acordo com pesquisa de 2015 realizada pela Anvisa, Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

O interesse pela cultura biodinâmica veio por meio do trabalho junto aos fazendeiros locais da Associação Biodinâmica, que fica pertinho da fazenda, em Botucatu.

Plantação Biodinâmica

“Já estamos há dois anos com a plantação biodinâmica. As diferenças do plantio biodinâmico começam pelo trabalho na terra: é necessário que ela fique, no mínimo, cinco anos sem nenhum tipo de cultura. O esterco não é utilizado. É feito uma análise do solo que estudo o NPK ( Nitrogênio, Fósforo e Potássio). Se estiver faltando, fazemos a compensação plantando nabo forrageiro que fixa o nitrogênio no solo; se faltar Fósforo, vamos de crotalaria, que é uma fixadora da substância e, se for Potássio é que estiver precário, plantamos aveia preta”, conta.

E acrescenta: “em seguida, espero crescer e formar um matagal. Então, incorporamos ao solo que irá descansar mais ou menos 15 a 20 dias. Somente após esse período é que começamos a plantar.

E se precisar de mais alguma correção, colocamos um preparado de mamona, totalmente natural. Quanto às doenças, usamos esses preparados biodinâmicos como um remédio homeopático para a planta. Levamos seis meses para prepará-lo”, esclarece o proprietário.

Cuesta CaféEle ainda explica que, apesar de ainda estarem no processo de transição, conseguem perceber que o café especial biodinâmico demanda fora da época da colheita muito mais trato cutural.

A separação  é feita manualmente para a torra, que é realizada na própria fazenda, e o maquinário precisa ser limpo antes de utilizada para os grãos biodinâmicos. “Para fazer o processo biodinâmico  temos que limpar todas as máquinas e não podemos utilizar a mesma água dos outros processos”, explica.

A ideia é deixar, por enquanto, 10% da produção de cafés especiais da fazenda biodinâmica. “Todo o nosso terreno tem uma vocação para o café. E o biodinâmico é muito procurado no exterior. Normalmente, é um produto mais caro, chegando a custar 30% mais do que o café especial orgânico”, diz.

Outras produções

Além do café biodinâmico, a Fazenda já está produzindo soja, trigo sarraceno, aveia, quinoa, milho safrinha e três tipos de feijão: moyashi, azuki  e o carioca. Como a produção ainda é muito pequena, só vendem regionalmente.

Yuri conta que têm interesse em futuramente plantar oliveiras em uma parte da fazenda onde o terreno tem muito pedregulho, para aproveitar 100% o local, uma das premissas da cultura biodinâmica.

Uma outra característica da região é que venta muito. Para proteger a plantação, possuem grevílea, eucaliptos e bananeiras. E as oliveiras também podem ajudar na função.

Métodos de secagem

A fazenda conta com terreiro suspenso, secador e terreiro convencional de cimento. “Tivemos muitas mudanças com o início do plantio do café biodinâmico, uma vez que todos os processos precisam ser totalmente separados do convencional. Por essa razão, ainda não iremos fazer o descascado, para não mudar o processo na máquina”, explica.

Cuesta CaféTorrefação

A torrefação é toda feita na própria fazenda, numa Atilla, sendo que a torra é feita de acordo com o perfil de cada café. E aqui também que são preparados os microlotes que posteriormente serão vendidos na Cuesta Café e na loja TEM café, localizada na Praça Buenos Aires, em Higienópolis, São Paulo.

O que é biodinâmica

A agricultura biodinâmica é um modelo agrícola de produção, que nasceu em 1924, por meio de um ciclo de oito palestras proferidas na Alemanha, por Rudolf Steiner, criador da Antroposofia.

A biodinâmica não utiliza adubos químicos, venenos, herbicidas, sementes transgênicas, antibióticos ou hormônios. Além disso, busca a integração e harmonia entre as várias atividades de uma propriedade como horta, pomar, campo de cereais, criação animal e florestas nativas. Trabalha também com o conhecimento do ciclo cósmico. A biodinâmica usa preparados homeopáticos feitos de minerais, esterco bovino e plantas medicinais que promovem a vitalidade dos alimentos. Os agricultores usam o calendário astronômico agrícola como uma importante ferramenta de orientação para os melhores momentos de se trabalhar a terra: plantio, tratos culturais, colheita.

Demeter é a marca que identifica, mundialmente, os produtos biodinâmicos. Os produtos Demeter fazem parte de uma rede ecológica internacional, ligada ao Demeter International, sediado na Alemanha. Outros países que possuem a Demeter são: Dinamarca, Egito, Finlândia, França, Inglaterra, Irlanda, Itália, Canadá, Luxemburgo, Nova Zelândia, Países baixos, Noruega, Áustria, Suécia, Suíça e EUA.

O responsável pela produção de biodinâmicos na fazenda, explica um pouco melhor o processo: “os calendários astrológicos para colheita são usados desde os primórdios da agricultura mas os alemães os alçaram à categoria de ciência. A primeira cultura biodinâmica foi com o rabanete”.

Cuesta CaféA biodinâmica no Brasil

A biodinâmica chegou no Brasil depois da Segunda Guerra Mundial, com a vinda dos alemães. Várias teorias fazem parte da biodinâmica, como por exemplo, a da trofobiose, que diz que qualquer ser humano sadio fisica e espiritualmente está imune às doenças. Então, uma planta que está com todos os nutrientes, plantada na época certa, com espaço suficiente para se desenvolver, não pegará praga, nem terá problemas em seu desenvolvimento.

No passado, a agricultura biodinâmica era empregada apenas em pequenas propriedades e, mesmo assim, em pequenas hortas. Mas a partir dos anos 60, esse panorama começou a mudar.

O mercado de biodinâmica no Brasil ainda não cresceu tanto quanto o orgânico mas, na Europa, a demanda é enorme. Um exemplo de sucesso são os vinhos biodinâmicos, sendo que alguns rótulos são considerados os melhores do mundo.

TEM Café

A simpática loja fica em frente à Praça Buenos Aires, em Higienópolis, região central de São Paulo. É diferente porque, por enquanto, não vende a bebida pronta, apenas os grãos que podem ser moídos na hora.

Além da marca própria Cuesta Café, vende microlotes de cerca de 30 variedades de diversas regiões do Brasil, já que o proprietário é um caçador de bons grãos.Promove também degustações e vende diversos utensílios como xícaras, filtros, moedores etc.

Em breve, terá um parklet e aí, sim, poderá oferecer serviços regulares de uma cafeteria. Aguardemos!

TEM CAFÉ

Rua Alagoas, 563 – Consolação
Fone.: (+5511) 36613269/ temcafe.com.br

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