Café e cannabis: duas das plantas mais utilizadas pela humanidade, agora harmonizadas pela primeira vez no mundo
Mônica Pupo é jornalista, ativista antiproibicionista e sobretudo cultiva duas grandes paixões: cafés especiais e marijuana. Paulista, moradora de Florianópolis, Santa Catarina, desde 2012 vem coletando material, traduzindo para o português e divulgando temas ligados ao uso terapêutico da cannabis para tratamento de uma série de doenças.
Criou um site www.maryjuana.com.br a fim de divulgar o movimento tanto no Brasil como no mundo e ajudou a pautar o assunto na Grande Imprensa. Além disso, o site faz parte da plataforma brasileira de política de drogas, grupo que reúne mais de 40 entidades e ONGS ligadas a questão.
Inegavelmente, um momento muito importante na vida da jornalista foi quando conheceu o paulistano Gilberto Castro, portador de esclerose múltipla, que se trata com a cannabis há mais de 18 anos.
Foi então, desse encontro com Gilberto, que segundo seu próprio relato foi extremamente marcante, foi que resolveu assumir a missão de falar sobre a cannabis de modo responsável, focando na utilização terapêutica da planta.
Posteriormente grandes vitórias foram alcançadas desde então e, ao que tudo indica que, até o final desse ano, a Anvisa irá lançar as regras do cultivo medicinal da cannabis no Brasil. Para saber mais sobre a legislação brasileira sobre o assunto acesse: http://maryjuana.com.br/2017/12/cultivo-de-maconha-para-fins-medicinais-avanca-no-senado/
Cafés especiais e cannabis
No entanto, Mônica que já tinha paixão pelos cafés especiais, resolveu reunir seu conhecimento sobre a cannabis e criar em 2015, uma startup, a Marijuana Coffee, a primeira linha de cafés especiais do mundo destinada à harmonização com a cannabis. Atenção, leitores: os cafés especiais da marca não contém marijuana, ok?
“Como usuária recreativa, posso ficar muito tempo sem fumar, mas sem beber café não dá. Uma vez fiz uma promessa de ficar três meses sem tomar café por conta de uma doença que minha mãe adquiriu e quase fiquei louca. Eu acordava em depressão. Nem preciso falar que quebrei a promessa, confidencia.
Todavia, o café especial surgiu em sua vida também em 2015, quando trabalhava para a Veja Santa Catarina e, por conta da profissão, conheceu todas as cafeterias legais da região. “Eu já sabia que tinha cafés melhores, mas não era uma consumidora. Foi a partir daí que eu realmente me liguei na qualidade dos nossos cafés especiais”, relembra.
Começou então a consumir cafés especiais orgânicos e, por coincidência, seu pai tinha um amigo proprietário de uma fazenda de cafés especiais no sul de Minas, que presenteou a família com vários microlotes. “Um dia, meu apartamento estava cheirando café e, nessa época eu estava fazendo um estudo sobre os terpenos, que são as moléculas naturais de aroma e sabor, produzidas por diversas plantas, incluindo a cannabis e o próprio café. Comecei a me aprofundar e fiquei pensando em brincar de harmonizar os sabores”, explica.
Os primeiros testes
Conheceu seu primeiro sócio, produtor de cafés especiais do sul de Minas e começaram a fazer alguns testes. “Na verdade, eu fiz um estudo de perfis de terpenos de algumas famílias de cannabis que eu já estudava. Aí chegamos a alguns padrões, de acordo com sites americanos e degustações para chegar em alguns perfis distintos.
O primeiro foi o Indica e o segundo o Sativa, que puxam para um sabor mais cítrico, mais leve, têm mais THC. Aí fui afunilando essas informações com as dos cafés especiais. A torra clara propicia um café um pouquinho mais cítrico. “A ideia é harmonizar por similaridade”, esclarece.
Preconceitos e dificuldades
Após uma série de dificuldades, desde uma batida da Polícia Federal em seu apartamento por conta de uma denúnica anônima, até a recusa de uma gráfica em fazer o rótulo das embalagens dos cafés especiais da marca, ela e seus dois sócios, o marido e profissional da área de marketing, Rodrigo Aranha e o cafeicultor, Cristiano Franco, resolveram rebatizar a empresa com o nome MARY 4:20 CAFÉS QUE HARMONIZAM. Atualmente, a sociedade é formada somente pelo casal.
“Nossa proposta é fornecer cafés especiais, inspirados e torrados sob medida para harmonizar com diferentes cepas de cannabis, com o objetivo de emular sentidos e experiências”, conta Mônica.
“O hábito de degustar café e cannabis não é nenhuma novidade, basta observar o sucesso dos coffee shops da Holanda”, diz. E continua: “além de ambas as substâncias estarem associadas a momentos de relaxamento e prazer, há diversas nuances de aroma e sabor. Harmonizar os aromas dessas duas plantas, seja por similaridade ou complementariedade, apenas segue uma tendência mundial”, argumenta.
Além da nova marca e identidade visual, está lançando também novos rótulos de cafés especiais, inspirados e destinados à harmonização com duas das mais famosas genéticas canábicas: Haze e Kush.
Origem dos cafés MARY 4:20
O atual microlote da marca é composto por cafés 100% arábica, com pontuação acima de 83 na escala da Specialty Coffee Association, SCA, provenientes das fazendas Cruzeiro, localizada na região do Cerrado Mineiro, e do sítio Serra, no sul de Minas Gerais, plantados a uma altitude acima de mil metros. São da variedade Catuaí Amarelo e a torra está a cargo da empresa Sanches Cafés, de Poços de Caldas, Minas Gerais.
Atualmente, a empresa está comercializando quatro variedades de cafés especiais que se harmonizam com quatro das mais famosas genéticas canábicas: Indica, Sativa, Haze e Kush.
O Sativa, de torra clara, tem predominância de notas de limão, tangerina e ervas frescas, simulando o perfil aromático das cepas canábicas de predominânica Sativa. Com torra média, o café especial Indica é mais encorpado e possui sabor frutado proveniente dos melhores grãos. O Haze, de torra clara, realça a doçura e o frescor, enfatizando notas de frutas tropicais. E, finalmente, o Kush é indicado para os apreciadores de intensidade aromática, com notas florais e adocicadas. Para saber mais sobre as harmonizações acesse o site mary420.cafe.
Cannabis no Brasil
Além do próprio site da jornalista, uma das principais fontes de informação sobre a marijuana no Brasil são encontradas no site www.growroom.net.
No Brasil, o porte e o cultivo são proibidos por lei, e a pena é a cadeia.
Com seu ativismo, Mônica defende a discrimização da maconha no país. “O que traz a violência é a criminização do usuário. Melhor exemplo é a venda legal do álcool. Se a cannabis fosse regulamentada não teria guerra. A gente não vê dono de bar brigando com seus concorrentes nem donos de cafeteria matando por aí. Tá todo mundo ali pagando seu imposto, vendendo pra quem pode comprar e tudo isso sem violência”, finaliza.
4 Comentários
Eu acho o Grão Especial incrível,mas como vocês dão audiência a um tipo de matéria como essa?Para que fazer apologia de algo que coloca tantas pessoas na cadeia?Essas pessoas deviam estar presas, pois aonde é cultivada a maconha que eles harmonizam o café?O plantio de maconha no Brasil ainda é crime, e muitas pessoas ainda morrem ou perdem a sua liberdade por isso.
Péssima matéria!
Ficamos muito felizes em saber que você aprecia nosso trabalho. Nossos agradecimentos. Com relação ao seu comentário sobre a matéria da startup da jornalista Mônica Pupo, nossa intenção nunca foi fazer apologia do uso de qualquer substância ilícita. Simplesmente noticiamos um fato: o lançamento de um produto inédito relacionado ao universo dos cafés especiais. Sentimos muito que você não tenha gostado. Mas, jornalisticamente, entendemos que o assunto é absolutamente pertinente ao nosso dia-a-dia. Inclusive, ontem mesmo, o ministro do Superior Tribunal Federal, Roberto Barroso, em entrevista à jornalista Miriam Leitão, da Globonews, se posicionou totalmente favorável à legalização da maconha. O que reforça ainda mais a argumentação da entrevistada.
Um grande abraço e esperamos que você continue acompanhando nosso trabalho. A vida é assim: nem sempre a gente concorda com as opiniões dos outros, mas temos que respeitar as opiniões divergentes. É assim que construiremos uma democracia cada vez mais forte.
Bravo!!
Olá, Isadora! Tudo bem?
Pelo seu comentário, vejo que você também a favor das mesmas causas que defendemos: liberdade individual e um mundo mais justo. Afinal, se pessoas seguem sendo presas por culpa de uma lei injusta que criminaliza uma planta que faz menos mal do que açúcar ou cafeína (!!!) – e ainda é repleta de propriedades terapêuticas já comprovadas pela ciência – é sinal de que a lei está errada, e não as pessoas.
A guerra às drogas é uma guerra contra PESSOAS. Não é irônico que, até mesmo dentro de prisões, o uso e venda de drogas aconteça a despeito de todo o sistema de vigilância e monitoramento? De que adianta proibir, criminalizar e massacrar pessoas (sobretudo pobres e pretas) se o ser humano, desde que o mundo é mundo, busca algum tipo de substância entorpecente para uso individual? O café, aliás, já foi proibido por pelo menos 5 vezes na história da Humanidade, por motivos e preconceitos semelhantes aos que embasam a argumentação contra a legalização da cannabis.
A proibição não reduz o consumo, nem muito menos existe por conta de uma suposta preocupação com a saúde pública. Se fosse assim, pq não proíbem o açúcar, que causa diabetes? Ou por que não proíbem o álcool, que diariamente tira a vida de centenas de pessoas em todo o mundo? Pular de pára-quedas também é arriscado, pq não proibir? Percebe como este tipo de lógica não faz sentido?
Abraço!