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Entrevista Paul Germscheid revendedor La Marzocco BR | Grão Especial

La Marzocco: quando a maior beleza de uma cafeteria se encontra no balcão

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No mundo todo, as máquinas de espresso La Marzocco (instagram.com/lamarzocco) são um objeto de desejo. Totalmente feitas à mão, cada máquina demanda uma média de três meses para ser construída, em sua fábrica, situada na região de Florença, na Itália. São muito orgulhosos de sua origem florentina, já que a cidade foi  o berço do Renascimento.

A influência do design na confecção das máquinas não é mera coincidência. O leão que protege a cidade, Il Marzocco, foi adotado como logo da empresa.

Criada por dois irmãos, Giuseppe e Bruno Bambi, em 1927, foi a primeira a desenvolver e patentear, em 1939, uma máquina com um boiler horizontal, posteriormente adotado pelos outros fabricantes.

La Marzocco

(Etiqueta tradicional da La Marzocco, mais famosa marca de máquinas de espresso no mundo)

Mais tarde, incluiu mais um boiler em todos os seus modelos, sendo, até hoje, a única máquina de espresso com duas caldeiras. Uma, direcionada apenas para água e a outra, para o vapor.

Os baristas a amam. Atestam que é um equipamento inteligente,  e que oferece as melhores condições de extração do café e vaporização do leite. Suas caldeiras são de aço inox, com 3mm de espessura e cada grupo de aço inox é fundido diretamente na caldeira, formando uma peça só.

Tudo isso tem seu preço, claro. O modelo de entrada da La Marzocco no Brasil, de 1990, custa por volta de R$ 50 mil. E uma Strada, um dos modelos mais sofisticados, não sai por menos de R$ 105 mil.

Em todo o país, já foram comercializadas entre 250 a 300 máquinas, o que é pouco, muito pouco. Seus principais mercados são os Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, Japão, Inglaterra e Alemanha. “Nosso desafio é aproveitar o crescimento do mercado de cafés especiais no Brasil, vender mais, ajudando a transformar a cena com alta qualidade”, explica o representante da marca no Brasil, Paul Germscheid.

(A La Marzocco modelo F80 em que Paul nos preparou um espresso)

Alemão ou brasileiro?

Alemão de nascimento, Paul vive ha 11 anos no Brasil e café sempre foi sua paixão. “Sou formado em engenharia e na Alemanha, trabalhava com pesquisa na área de microtecnologia, com ênfase em micromecânica. Mas minha paixão por cafés, me fez descobrir uma La Marzocco antiga, usada, que comprei para reformar. Quando acabei, um amigo brasileiro viu, adorou, e queria comprar uma máquina dessas no Brasil. Fiz um contato com a fábrica, que me informou que não tinham ninguém trabalhando para eles aqui. Contei da reforma que havia feito na máquina e, quando viram o resultado, imediatamente me chamaram para assumir a representação no Brasil”, conta.

Paul Germscheid

(O simpático alemão Paul Germscheid, representante da La Marzocco no Brasil)

Paul já tinha uma proximidade com o nosso país por causa da sua mulher, brasileira de família alemã. Convenceu-a a voltar ao Brasil e vieram para São Paulo, onde nasceram seus filhos. “Eu queria ter essa experiência a mais em função da minha paixão pelo café. E aqui era o lugar ideal”, relembra. “No Brasil, temos o mercado consumidor e a produção do café, no mesmo lugar. Isso é muito raro”, explica.

“ No Brasil, posso visitar sempre as fazendas e alimentar minha  paixão pelos cafés especiais. Gosto de viajar, garimpar novos cafés. E, quando são pequenos produtores, ajudo na torra, pensando sempre em ressaltar as qualidades da bebida. Obviamente, também, por que preciso de amostras para feiras e showrooms, mas amo conhecer toda a cadeia”, diz.

Paul Germscheid

(Paul adicionando leite no preparo do espresso que serviu pra gente!)

Design até no endereço

Como o design está presente no DNA da La Marzocco, por uma dessas coincidências, Paul acabou se estabelecendo em uma casa em pleno Jardins, área mais nobre de São Paulo, do renomado arquiteto brasileiro, Villanova Artigas. Uma verdadeira joia: como a La Marzocco.

A entrevista aconteceu no salão com vista para a piscina, com amplas aberturas para a entrada do sol, uma das principais características do arquiteto. “ Logo que mudei pra cá, deva festas intermináveis aqui, e os meus amigos do café, de todo o mundo, se sentiam no paraíso”, confidencia.

Vendas e aluguel

O forte da La Marzocco no Brasil são as vendas. “Também alugamos algumas mas, nesse caso, eu gosto de escolher meus clientes para locação. Tem que ser alguém que saiba usar e que tenha cuidado com a máquina. Senão, é prejuízo na certa”, conta.

(Antigo modelo da La Marzocco que Paul tem em sua bela casa em São Paulo)

Novo modelo será lançado em outubro, na Host 2017

Atualmente, estão disponíveis os seguintes modelos: GS3, a Linea Mini, a F80, o GB5, a Linea PB e, a mais sofisticada de todas, a Strada. “Em outubro, na Feira de Milão, Host 2017, será lançado um novo modelo. É uma máquina de alavanca, uma interpretação moderna e sofisticada das máquinas mais antigas. Já estou trabalhando na certificação do INMETRO e calculo que estará disponível para venda somente em 2018 por aqui”, confidencia.

O processo para a criação de um novo equipamento da La Marzocco demora por volta de quatro anos. ‘Tive o privilëgio de acompanhar todas as etapas dessa criação e até ajudar em algumas soluções encontradas”, diz orgulhoso.

Modelos a venda no Brasil

Peculiaridades do Brasil

Paul sabe que o preço da La Marzocco assusta um pouco o tão sofrido empresário brasileiro. Mas ele conta que já viu casos em que as pessoas gastam mais de R$ 100 mil para reformar uma fachada e, na hora de investir numa boa máquina de espresso, não tinham dinheiro. “Isso resume bem o Brasil pra mim. As pessoas trabalham muito o visual e não se preocupam com o planejamento do negócio. Tem gente que me procura uma semana antes de abrir seu negócio. Como pode?”, se indigna.

E continua: “ a máquina de café espresso em uma cafeteria é o coração do negócio. Aliados à qualidade do café e o empenho de quem vai trabalhar nela. Sem esses três fatores, é impossível criar um negócio saudável”, constata.

Aqui no Brasil, as cafeterias têm normalmente apenas uma máquina. Poucas usam duas para ter uma margem de segurança. Na Europa e nos EUA é mais comum, até porque o volume de vendas diário de café é muito maior. A média lá é de 10 kg por dia, enquanto aqui não chega a 4,5 kg.

O tempo certo para fazer um pedido para a fábrica é de cerca de cinco meses de antecedência. Na Itália, eles só trabalham sob pedido, por isso, conseguem produzir a máquina na cor que o cliente quiser. Depois, a máquina demora de dois a três meses na alfândega. O transporte é rápido, já que elas vêm de avião”, explica. Mas pra quem quiser pronta entrega, Paul têm algumas peças.

Primeiro cliente 

Paul Germscheid

(Seu primeiro cliente no Brasil foi um restaurante/cafeteria no Itaim que já fechou, chamado Túlia. A primeira máquina vendida foi também para um cliente que nem existe mais, a Nice Cup. E aí não parou mais.)

A torra

Seu amor pelos cafés especiais o levou até o mestre de torras dinamarquês, Peter Dupont, da Coffee Collective, com quem fez um curso de torra. Adora o trabalho do barista dinamarquês, Klaus Thomsen e, provocado pelo Grão Especial, faz uma comparação. No Brasil, quando um barista faz sucesso,  fica mais conhecido, ele quer aparecer, não quer mais trabalhar na máquina. Ser empreendedor é bom, mas não pode largar o café”, enfatiza.

“As pessoas ainda não perceberam que a torra é algo extremamente importante. Os pequenos produtores de café especial não sabem provar o produtos, não conseguem avaliar seus cafés. As exportadoras é que acabam definindo o preço, sempre, claro, tentando baixar o valor. Não existem informações da exportadora sobre o café para o produtor, não há feedback. Todo o poder está nas mãos dos megaexportadores”, vaticina.

Paul ainda conta que tem um grande amigo, o Eystein Veflingstad, da empresa 3a. Onda, que era um grande …que trabalhava na Europa com café, também casado com uma brasileira, veio morar no Brasil em função da mesma paixão. Ele é consultor de café, focado nos pequenos produtores. Trabalha muito na região do Caparaó, em Santa Rita, em Piatã, na Chapada Diamantina, na Bahia “Ele se mudou para o Brasil porque a esposa estava cansada do frio da Alemanha. Morando em Salvador, ajuda os pequenos produtores a melhorar sua produção e também na torra”, conta.

(Amostras de café da Fazenda Santa Terezinha que Paul prova em sua casa)

O café especial no Brasil

Paul é fã do cenário de cafés especiais de Curitiba, principalmente, com o trabalho do Lucca Café. “Gosto também de Brasília, muitas coisas estão acontecendo por lá. O Nordeste está começando a acordar para os cafés especiais, já temos um cliente no Norte, no Piauí mas a cena dos cafés especiais no Rio de Janeiro é um desastre”, diz.

Apesar do tamanho continental do Brasil, Paul enfatiza que  a La Marzocco oferece assistência técnica para todos os seus clientes, estejam onde estiverem. “Pegamos o avião e visitamos onde ele estiver. Nossas máquinas quebram muito pouco, mas estamos prontos. No dia da nossa entrevista, um cliente de Aracaju estava com alguns problemas e, para resolvê-lo, Paul interrompeu  nossa entrevista algumas vezes. Ossos do ofício.

Paul Germscheid

(Paul Germscheid conversando com a equipe do Grão Especial)

Futuro da La Marzocco

A La Marzocco sabe que é o sonho de consumo de todo o mundo que entende de café. Foi a primeira a instalar as caldeiras na horizontal e a primeira a trabalhar com caldeira saturada. Eles estão muito à frente dos concorrentes e sempre nortearam seu trabalho para que a extração do café fosse a melhor possível”, conta Paul.

Atualmente, investem em pesquisas e melhorias dos processos e de materiais. Eles sempre têm um caminho: fazer mais nobre e melhor. A filosofia da marca é o contrário das outras: primeiro eles fazem a máquina, depois, as contas de produção.

Em breve, vão terminar a reforma da fábrica antiga de Florença. Eles estão transformando-a em uma academia de café voltada para educar o público.

Ikawa

Ikawa

(Modelo da máquina de torra Ikawa, que Paul vai começar a vender)

Outra novidade do Paul: ele está trazendo ao Brasil para comercialização, a máquina de torra inglesa, Ikawa, que torra apenas 50 gramas por vez. É uma máquina com uma precisão impressionante. É para uso comercial, apenas, cara ( cerca de R$ 19 mil), mas com ela, é possível avaliar com precisão as amostras de café. No momento, está trabalhando no processo de certificação do INMETRO.

A paixão por máquinas precisas e café especial o trouxeram aqui. Que ele preserve essa paixão!

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