O VacOne já é um sucesso nos EUA, é barato, e ainda prepara o café no modo tradicional
Somos os maiores produtores de café do mundo mas, de modo geral, pouco contribuímos com o desenvolvimento do mercado, quando falamos de inovação, criação de novos produtos ou mesmo tendências. Via de regra, a regra é copiar, não é mesmo? O mesmo se dá com outros países produtores de café. Quem cria as novidades são os mercados consumidores! Mas, dessa vez, a história é diferente. Dois jovens latinos, um nascido na Guatemala e outro na Bolívia, se conheceram graças ao mundo do café especial e descobriram que podiam virar esse jogo!
Estamos falando de Otto Becker, o guatemalteco, e Eduardo Umaña, o colombiano, cujas famílias são produtoras de café em seus países de origem. Otto é formado em engenharia industrial e Eduardo em engenharia elétrica.
Eduardo é o inventor da dupla, enquanto Otto cuida das vendas, distribuição e do marketing. Mas vamos voltar um pouquinho na história. Eduardo esteve envolvido com o café desde criança. Adorava experimentar e provar os diferentes cafés produzidos por sua família, em especial, seu avô. Que fazia questão de ensinar o neto tudo o que sabia da bebida. Eduardo cresceu inventor e resolveu criar uma cafeteira para uso próprio. Como barista amador, ele sabia que a espuma que o café moído libera quando entra em contato com a água é esteticamente bonito, mas amarga, o que pode interferir no sabor da bebida.
Pesquisou por dois anos, criou diversos protótipos, na tentativa de extrair a espuma amarga até que percebeu que uma bomba à vácuo era eficiente para separar a espuma do líquido, ao mesmo tempo que acelerava o processo convencional de preparação do cold brew, de horas para minutos, graças a uma fermentação mais rápida do que outros processos. Assim nasceu o VacOne.
Como a VacOne funciona
“O primeiro insight veio enquanto tomava um café em Bogotá, na Colômbia, com alguns amigos amantes de café. Acontece que a espuma ou o colarinho que o café moído libera quando se combina com a água é, na verdade, CO2, que fica preso durante o processo de torra. O colarinho tem um sabor desagradável e pode infundir sabores indesejáveis na xícara final, por isso a liberação do colarinho, que é o processo de deixar o CO2 escapar da infusão, é tão importante na fabricação de cold brew com métodos tradicionais”, explicou Eduardo numa entrevista ao Financial Times.
O resultado na xícara ficou excelente e Eduardo resolveu investir numa versão comercial da cafeteira. “Todas as cafeteiras tinham uma bomba de água e um princípio de preparo mais simples. A infusão a ar separa o colarinho da xícara pronta e aplica um pouco de pressão para extrair o melhor café. O novo método tem também outros benefícios: é rápido, permite parâmetros de preparo, como volume da moagem e tempo, o que significa que não é necessário ser um barista profissional para preparar uma boa xícara de café e é flexível porque também faz cold brew num tempo realmente curto”, explica Eduardo.
A sociedade com Otto
O problema é que, como cientista, Eduardo nada entendia de vendas, logística e marketing. Visitando alguns amigos na Guatemala, foi apresentado a Otto Becker, cuja família possui três fazendas de café: Finca Las Delícias, San Casimiro e Nueva. Naquele tempo, Otto era executivo da multinacional Henkel. Apesar da projeção e bom salário, estava infeliz e queria empreender. “Pensava comigo que preferia morrer pobre, na fazenda, do que ficar rico no mundo corporativo”, confidencia.
Na Guatemala, um amigo em comum de Otto e Eduardo tinha uma VacOne em casa e sugeriu que Otto fizesse cold brew com os cafés de uma de suas fazendas que ele havia trazido para o encontro. Otto amou o resultado. “Imagina, poder fazer cold brew em minutos, não mais em horas”, relembra.
Depois de experimentar o VacOne, Otto percebeu seu potencial e quis conhecer o inventor. Primeiro por telefone, depois pessoalmente, ainda na Guatemala. Desse encontro, finalmente surgiu a sociedade entre ambos e, dois meses depois, Otto deixou seu emprego na Henckel e voou para Miami, onde a empresa VAC @vac.coffee está estabelecida.
A primeira providência de Otto na nova empreitada foi mudar o nome do produto que, a princípio, se chamava Frank One, após o resultado de uma pesquisa constatar que não era muito comercial. Mudaram para Vac e, na sequência, VacOne, cuja marca já está legalmente protegida. Em seguida, encontraram um fornecedor em Taiwan para produzir a cafeteira, capaz de preparar o café de três maneira diferentes: concentrado como um expresso, como cafezinho e cold brew preparado em apenas quatro minutos. E com um preço atraente: apenas US$ 89, mais barato que a média das máquinas de café encontradas nos pontos de vendas nos EUA.
A VacOne já está disponível também na Espanha, República Tcheca, Japão, Tailândia, Singapura, Coreia do Sul, Filipinas e Taiwan. Os rapazes estão procurando um representante no Brasil para comercializar seu produto para consumidores e cafeterias.
A VacOne é eco-friendly, não utiliza papel e usa pouca eletricidade, podendo fazer até 200 xícaras antes de precisar ser recarregada novamente. Ela é ideal para ser utilizada em espaços pequenos e em acampamentos, já que não precisa estar ligada na tomada no momento do funcionamento. Também pode ser facilmente utilizada em cafeterias. Os empreendedores já comercializaram cerca de 10 mil exemplares, a maioria nos EUA.
Diversos baristas que trabalham testando e experimentando diversos cafés já estão utilizando a VacOne para identificar e destacar as diversas nuances do café, auxiliando a reconhecer um melhor perfil na xícara. Também cervejeiros estão experimentando receitas de cerveja sem ter que esperar por 24 horas antes de saber se suas receitas têm o sabor que eles querem.
Além da VacOne, eles acabam de lançar um serviço de assinatura mensal de cafés, o Quintal Coffee, por enquanto, apenas disponível para o mercado americano. A ideia é oferecer cafés com classificação igual ou superior a 90 pontos pelo Cup of Excellence, torrados diretamente na origem por um especialista. O mestre de torras Raul Rodas, campeão mundial de baristas de 2012 foi o responsável pela primeira edição dos cafés.
Como profundos conhecedores dos mercados produtores de café, Eduardo e Otto têm tudo para virar esse jogo injusto e iniciar um novo ciclo. Vamos torcer!