Em 2019, a empresa registrou recorde de faturamento e lucro
A Minasul (www.minasul.com.br), segunda maior cooperativa de café do Brasil, comemora crescimento de 29% em seu faturamento líquido no último exercício, aumento de 70% nas expostações, 13% no número de cooperados ativos, e um ganho líquido de 42%.
A cooperativa encerrou o ano com receita operacional líquida de R$ 1,44 bilhão ante resultado do exercício anterior de R$ 1,12 bilhão. A Minasul também registrou um resultado abrangente (lucro) de R$ 20,05 milhões, ante R$ 14,56 milhões registrados no ano anterior. Os resultados foram impulsionados pelas exportações, diversificação de produtos, implementação de novos processos, investimentos em tecnologia e aumento de número de cooperados.
“Apesar dos desafios em 2019 e a crise do preço de café, foi um ano recorde para a Minasul. O resultado da nossa estratégia de levar café de qualidade do sul de Minas para o mundo surpreendeu e mostrou que estamos no caminho correto”, diz o presidente da Minasul, José Marcos Rafael Magalhães. “Vamos focar em diversificação, tecnologia e buscar mais o mercado externo em 2020. Também vamos começar a exportar soja esse. O mercado externo é nossa grande meta”, afirma.
O total de café em estoque, na virada do ano, também surpreendeu, foi o menor dos últimos 10 anos, de R$ 166,3 milhões, o equivalente a 415.579 sacas de 60 quilos. No exercício anterior, o total de safras em estoque era de 600.021. “A safra foi menor do que o esperado no ano passado mas, mais do isso, houve uma demanda crescente, e isso é muito positivo, mostra que ainda há muito espaço para o nosso café crescer”, pondera.
Grande destaque foi o lançamento de um aplicativo que permite que o cooperado da empresa tenha acesso a todas as informações sobre o seu café estocado na Minasul a qualquer momento. “Trata-se de um aplicativo que traz agilidade ao cooperado na hora de tomar suas decisões sobre o destino de seu produto. Agora, ele tem todas as informações na palma da mão”, conta Magalhães.
Entrevista exclusiva com o presidente da Minasul, José Marcos Rafael Magalhães
Grão Especial – Com o fechamento das cafeterias ao redor do mundo para conter o avanço do COVID-19, algumas publicações internacionais apontam, nesse momento, um aumento no consumo de cafés especiais na casa das pessoas, justamente em função do isolamento social. De que maneira esse movimento impacta a Minasul?
José Marcos Magalhães – Olha, na verdade, impacta para o bem. O consumo de cafés nos estabelecimentos comerciais não é assim tão maior do que o consumo de cafés em casa. As pessoas que pararam de consumir nas cafeterias, estão consumindo em casa, e até mais do que antes da crise. Estamos trabalhando com números de 10% a 20% de aumento desse consumo, em função da quarentena.
Grão Especial – A Ásia passou pelo desafio do Coronavírus antes do que nós. O que vocês perceberam com relação ao consumo de cafés especiais na Ásia?
José Marcos Magalhães – Na China, ainda não podemos dizer, porque nosso escritório lá é novo e trabalhamos há muito pouco tempo com eles. Mas nos mercados como o Japão, Coreia do Sul e Indonésia, nós notamos um interesse maior pelos cafés, estão até mais preocupados com a continuidade da produção de nossos cafés do que com o Coronavírus. Inclusive querendo antecipar pagamentos, coisa que nunca existiu.
Grão Especial – Alguns especialistas apontam problemas com quantidade de containers disponíveis para exportação de bens de consumo de maneira geral. Vocês têm percebido essa dificuldade?
José Marcos Magalhães – Vou te dar algumas informações para rebater essa informação. Nós começamos a exportar cafés faz pouco tempo, há apenas três anos. Nesse último mês de março, batemos o recorde na nossa história de exportação. Embarcamos 65 mil e 500 sacas, o maior embarque de toda a nossa história. Outro exemplo, desembarque no porto de Trieste, na Itália, para a Lavazza. Fizemos o embarque de cinco mil sacas, para entregar agora em abril. Temos trabalhado com todos os portos e está absolutamente normal. Até agora, não tivemos nenhuma anormalidade.
Grão Especial – O maior desafio para a Minasul em 2019 foi o preço do café. Nesse momento, o Coronavírus é o maior problema para a exportação de cafés ou temos outros gargalos em 2020?
Marcos Rafael Magalhães – O Coronavírus, por incrível que pareça, vai nos ajudar a impulsionar uma forma diferente de negociação, por meios digitais. Nós nos preparamos muito para utilizar essa tecnologia como uma ferramenta. Nós acabamos de lançar um aplicativo, o Agroapp, que está facilitando demais a vida do nosso produtor. Temos também a loja virtual, e estamos vendo claramente que seu uso vai ser impulsionado pelo Coronavírus. Portanto, essa pandemia está tendo um efeito colateral bom, já que está forçando a aceleração da adoção de tecnologia.
Grão Especial – Vocês têm inúmeros associados. O produtor está preparado para esse grande desafio, de enfrentar a Pandemia sem atrapalhar sua produção?
José Marcos Magalhães – Dentro da nossa operação, trabalhamos com mais de oito mil cooperados. Desses, 85% são de pequenos produtores, e eles já tem um isolamento natural, uma vez que ele trabalha apenas com sua família. Nossa recomendação é a de seguir as determinações do ministério da Saúde e, principalmente, atentem muito para a qualidade no café. Temos uma demanda muito grande de produtos com valor agregado e que mantenham todos os cuidados na produção, nem deixem a produtividade cair. E nós vamos estar aqui trabalhando para encurtar distâncias e, se possível, suprimir alguns elos da cadeia. Nossos clientes querem bom preço. A única forma de melhorar a rentabilidade do nosso produtor é tirando alguns elos dessa cadeia. O nosso comprador quer um bom preço e o nosso produtor também. O único caminho que vemos é encurtar essas distâncias entre o mercado comprador e o produtor. A gente vê claramente que a cadeia de café foi estabelecida muitos anos atrás de maneira muito desequilibrada. Tem muito elo dentro dessa cadeia. Precisamos quebrar alguns deles.
Grão Especial – Quais, por exemplo?
José Marcos Magalhães – Olha temos uma serie de situações, vou falar de uma cadeia muito básica. Nós temos do lado do produtor, um corretor, importador, exportador, do outro lado, do comprador, temos uma exportadora, um broker, uma distribuição. Estamos trabalhando com direct trade, comporta uma série de facilidades e com blockchain, diminuindo essas distâncias. Nossa intenção é fazer o lead direto entre nosso produtor e as cafeterias e os compradores do mundo todo.
Grão Especial – Mas isso demanda um tempo…?
José Marcos Magalhães – Sim, claro, até porque algumas pessoas têm muita resistência, sofremos ataques violentos, mas vamos em frente. É inexorável. Nenhuma atividade econômica hoje em dia carrega ineficiências. Se a nossa está cheia de ineficiências, temos que limpá-la. A medida que o consumidor final e o nosso produtor percebem e adotam esse procedimento, aí o meio vai ficar sem força para se manter. Essa é a nossa visão. Temos um planejamento, o Minasul 2030, que estamos olhando para fazer essas mudanças acontecerem. Com o comércio do café especificamente, vamos começar a partir dessa safra, temos muita coisa a ser realizada, como o direct trade, blockchain, esse ano teremos muitas novidades. Eu poderia concluir que estamos trabalhando muito da porteira pra fora, todos os os nossos cooperados desenvolveram muito a capacidade de trabalhar porteira para dentro, como falamos. Tanto que o Brasil tem a maior produtividade na produção d café no mundo, saímos de 8 sacas por hectare para 32 sacas por hectare, em média. O que quer dizer um crescimento violento. Então, agora, temos que trabalhar da porteira pra fora. E ajudar o produtor a mitigar seus riscos na sua atividade. Então, nós temos também o desafio do mercado futuro. Para você ter uma ideia, há três anos, apenas 2% dos nossos cooperados, usavam o mercado futuro para vender seus cafés. Em 2019, saltamos para 37% dos produtores. E isso é fundamental. Aquele sistema antigo de plantar o café, colher e depois vender, isso não se sustenta mais. Com o nosso App, a qualquer momento, o cooperado pode checar o valor do café a qualquer momento e decidir quando e por quanto vai vender seu café, tudo feito pelo meio digital. É uma grande ferramenta e o Coronavírus vai impulsionar os produtores a entrar nesse jogo e, com certeza, não vão mais voltar ao sistema antigo. Usando a tecnologia em proveito próprio. Temos consciência que a Pandemia, de certa maneira, vai ser um marco no modo do produtor vender seu café.
Grão Especial – Planos para o mercado interno?
José Marcos Magalhães – Sim, temos um projeto de construir nossa própria torrefação para atingir o mercado interno, que já é o segundo maior do mundo, só perdendo para os EUA. Esse ano, a nossa meta de exportação era de 200 mil sacas e já batemos. Iremos exportar até o final de 2020, 600 mil sacas. Não vamos esquecer o mercado interno.