Nos planos, a construção de uma fábrica com início da operação marcada para o ano que vem, que irá produzir cápsulas de plástico de café premium com blends 100% brasileiros
A Mocoffee, empresa multinacional brasileira e portuguesa de produção de cápsulas de café premium, acaba de anunciar que irá iniciar a construção de uma fábrica no Brasil, ainda sem definição de local e investimentos. “A princípio, a planta ficaria no Espírito Santo, porém com a alteração do controle acionário, estamos revendo todo o nosso plano estratégico. Vamos terminá-lo nos próximos 60 a 90 dias e aí sim, teremos a definição” explica o CEO da Mocoffee, Ricardo Flores.
Além disso, a intenção da empresa é que os cafés premium sejam encapsulados no Brasil. Atualmente, toda a sua produção é finalizada na Suíça, Itália e Austrália, em fábricas parceiras. Mas a ideia é que principalmente os blends brasileiros sejam todos encapsulados aqui.
Saída do grupo Wine.com
Na semana passada, a empresa anunciou a saída do grupo wine.com de seu controle societário. Até então, eles detinham 50% da Mocoffee juntamente com a Tristão, dona dos 50% restantes. Flores esclarece que a construção da fábrica no Brasil foi um dos motivos da saída da wine.com. “Nosso ponto é que a Mocoffee precisa se verticalizar o mais rápidamente possível no Brasil e, com isso, a wine.com decidiu se retirar da sociedade, para investir exclusivamente no segmento dos vinhos”, conta. A Mocoffee foi fundada em 1991 pelo suíço Eric Favre, inventor do sistema de cafés em cápsula do uso doméstico.
“Tivemos que adiar nossa entrada no Brasil devido ao cenário econômico adverso. Mas, como principal mercado produtor de cafés do mundo e o segundo mercado consumidor, não podemos ficar de fora mais tempo. Todos os grandes produtores de café em cápsula no Brasil, estão conversando com a gente,” conta.
As máquinas da Mocoffee são finalizadas na China, sendo que boa parte dos equipamentos internos são produzidos na Alemanha e na China. Serão importadas ao Brasil.
Blends 100% de cafés brasileiros
A empresa tem investido muito na venda internacional dos blends brasileiros das regiões produtoras de Minas Gerais, Espírito Santo e sul da Bahia. “Nossa ideia é focar nos blends de cafés gourmet originários apenas do Brasil. Os europeus e americanos têm a ideia errônea de que é difícil fazer os blends que eles apreciam somentem com cafés brasileiros, sem precisar lançar mão de misturá-los a outros cafés de outros países produtores como Colômbia, Etiópia etc.
E nós não concordamos com essa ideia. Com o trabalho dedicado de torra e seleção, é possível fazer qualquer bebida que o estrangeiro gosta. E isso a gente já está fazendo. Temos hoje 12 blends 100% feitos de cafés brasileiros, inclusive estamos lançando agora nos EUA uma série só de cafés brasileiros”, explica o CEO.
Mercado interno
“Até o momento, no Brasil, só se preocuparam em vender os cafés premium e especial para os mercados externos. Esqueceram dos mais de 200 milhões de brasileiros, ávidos para conhecer e consumir melhores cafés. Não se importaram em criar um mercado de consumo de cafés gourmet no Brasil muito menos de cafés especiais”, opina Flores.
Mas nos últimos anos essa realidade vem mudando, e o conhecimento sobre os cafés especiais brasileiros de profissionais como Isabela Raposeiras, Mariano Martins e Hugo Wolff, para citar apenas alguns exemplos, têm auxiliado o consumidor a procurar mais e mais esses produtos. No meu ponto de vista, o brasileiro está apto a investir mais na qualidade do café. Contudo, por outro lado, os produtores estão começando a entender que podem ganhar dinherio vendendo também para o mercado interno. E isso é bom pra todos, inclusive para a Mocoffee”, diz.
No entanto a operação de vendas das cápsulas deverá começar já no ano que vem, primeiramente online. No modelo de negócios que ainda está em aprovação, a Mocoffee está estudando também a possibilidade de abrir lojas próprias para as vendas de suas cápsulas de café premium bem como a utilização de redes de supermercados. Somente nos dois primeiros anos de atividades no Brasil, a empresa espera comercializar de 30 a 40 milhões de cápsulas.
Reciclagem e logística reversa
Um dos seus diferenciais é que suas cápsulas são de plástico, e não utilizam alumínio. “Estamos fazendo em Zurique, um projeto de biopolímero ( plástico de origem vegetal, de uma palmeira, composto formado pela folha de uma espécie de palmeira e uma matéria sintética chamada EVOH, para criar uma barreira de oxigênio.). O projeto já está bem evoluído mas creio que ainda demorará mais um ano. Nesse campo, todo mundo está aprendendo. Nós estamos investindo para melhor o sistema”, explica Flores.
Austrália é seu principal mercado
Atualmente a Mocoffee opera no mercado de produção de máquinas e comercialização de cafés premium em cápsulas em 20 países e é uma das líderes de mercado na Suíça e Austrália, operando também em Singapura, Malásia e Áustria.
A Mocoffee produz 200 milhões de cápsulas por ano. Somente a Austrália consume cerca de 80 milhões de cápsulas por ano.
Entretanto nos EUA, em função das dificuldades em adaptar o sabor dos cafés ao paladar dos americanos, o que foi um desafio mais difícil do que a empresa esperava, vendem cerca de 27 a 30 milhões de cápsulas por ano. Contudo, só atuam no estado da na Flórida, dentro de um mercado muito específico, o de cruzeiros marítimos, instalando máquinas nas suítes dos navios de companhias como Carnival, Royal Caribbean, MSC. Mas em março de 2018, iniciam a operação online, com entrega em todo o território americano.
(Máquina de espresso da Mocoffee)
Operação em Portugal
A Mocoffee iniciou suas operações em Portugal em setembro último. Até então, a empresa estava exclusivamente da Suíça. A grande novidade em sua operação no país é que estão lançando entre abril e maio de 2018 uma parceria forte com uma rede de supermercados. “O projeto é muito importante pra nós, mas não posso dar mais detalhes, já que ainda é confidencial”, explica.
Cena do café especial em Portugal
Portugal tem praticamente um monopólio, com apenas duas ou três empresas que dominam o mercado de cafés. Portanto, por esse motivo, foi muito difícil introduzir o café especial em Portugal. Mas o cenário está mudando. “Nós temos a nossa Isabela Raposeiras, que se chama Sandra Azevedo. Como a Raposeiras, tem uma escola, a Academia do Café, em Lisboa, perto do Estádio do Benfica. Assim como a pioneira barista brasileira, Sandra tem formado muitos baristas e torrefadores e esses profissionais já estão abrindo pequenas torrefações e cafeterias”, diz. Num futuro breve, o Grão Especial publicará uma grande matéria sobre os cafés especiais em Portugal.
Cafés especiais em cápsulas?
“Em relação à questão da reciclagem têm dois pontos importantes: o primeiro diz respeito à legislação. Inclusive pelo o que sei, a legislação brasileira está mudando, já existe um projeto de lei e vai ser obrigatório os produtores reciclarem e terem logística reversa”, conta o CEO. Nos países onde a legislação é aplicada, existem empresas especializadas que fazem esse trabalho de coleta e tratamento das cápsulas.
Entretanto, tem um dado que é importante sobre a nossa cápsula: ela tem menos de uma grama de plástico. A da Dolce Gustto tem 14,6 gramas de plástico. Então, é preciso de 15 cápsulas nossas para fazer o mesmo lixo da concorrente. E como essa maioria dos concorrentes têm mais plastico que nós.
Mas no universo dos cafés especiais, mutos profissionais nem consideram a ideia de utilizar as cápsulas, preferindo os métodos de preparo clássicos como o espresso, french press, globinho etc. Mas e o consumidor? O que acha?
“Eu concordo que o café em cápsula não é a melhor forma de se tomar um café especial quando você é uma pessoa entendida no assunto e tem uma máquina de preparar espresso em casa. Eu sei como moer o meu grão, como conservar meu grão, sei como não deixar ele oxidar e sei como extrair o melhor café desse grão. Mas, a grande maioria das pessoas não têm uma formação de barista, como eu tenho, para poder fazer isso em casa. E muitos não têm o tempo necessário para se dedicar. Na minha opinião, o café em cápsula é o melhor café que se pode extrair para quem desconhece como tratar e extrair o café e pra quem procura comodidade”.
Com a palavra, o consumidor.