Startup Nau quer popularizar os cafés especiais para os brasileiros

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Com investimento inicial de R$ 500 mil, empresa quer inclusive abrir cafeterias próprias

Era uma vez três amigos brasileiros, que se conheceram em Dublin, na Irlanda, e que, além dos laços patrióticos, alimentavam uma outra paixão em comum: os cafés especiais.

Fabiano Strey, 37 anos, empreendedor, gerente de operações de TI da matriz europeia do Google e investidor e mentor de start-ups pelo Wow.ac; Gilberto Strey, 47 anos, adiministrador, que atuou como agente de investimentos para XP Investimentos, e a Relações Públicas, Mariana Finco Chryssafidis, 35 anos, resolveram unir seus expertises para lançar a Nau.

Fabiano, que continua morando em Dublin, Mariana em Londrina e Gilberto em Porto Alegre, sempre ficaram incorformados com a história do Brasil só encontrar bons cafés brasileiros no exterior e há dois anos, começaram a pensar com mais carinho na ideia de empreender na área.

“Queremos democratizar o café de categoria especial brasileiro por meio do produto, claro, e também na forma de se fazer comunicação”, explica Mariana. “Por não termos um passado vinculado ao café, iremos contribuir com novas e arejadas ideias”, aposta.

Branding: o café azul

Até o momento já investiram R$ 500 mil próprios, que foram direcionados para o projeto de branding da marca, capitaneado pela empresa TV1, no desenvolvimento do e-commerce e na compra de cafés especiais.

“Entendemos que fazer o primeiro investimento em pesquisas de mercado, estudo do comportamento do consumidor, planejamento e desenvolvimento de uma marca consistente é fundamental para nosso sucesso”, explica Mariana.

Café Nau

(Embalagens de café da Nau: a cor azul remete ao tema marítimo)

“Optamos por um conceito que não se inspira nos tradicionais tons de terra, marrom e preto, nem no luxo ou nos nomes complicados para definir cada sabor do café”, diz Mariana. O nome da empresa foi inspirado nas antigas caravelas, que trouxeram das terras distantes seus desbravadores e na importância da água, fundamental do plantio até o preparo do café na xícara.

Cápsulas

Como queriam conquistar novos clientes para o mundo do café especial, a empresa decidiu iniciar as vendas com cafés especiais em cápsulas. “O consumidor de cápsulas busca um café de melhor qualidade, mas não necessariamente ele conhece a diferença do café commoditie e do café especial. Acreditamos que a cápsula pode funcionar como uma ponte entre esses dois mundos”, esclarece a sócia.

As vendas do café especial até o momento, são feitas exclusivamente pelo e-commerce www.nau.cafe e pelo parceiro Café Fácil www.cafefacil.com.br. “Apenas com divulgação no facebook, conseguimos captar mais de 600 clientes de forma orgânica em quase quatro meses de atividades, com uma média de recompra de 30%”, conta Mariana. A expectativa é fechar o ano com uma previsão de faturamento de R$ 90 mil.

Café Nau

(Embalagem de cápsulas de café da Nau, que é vendido exclusivamente online)

Para o ano que vem, os planos são ambiciosos: pretendem expandir a marca para a região Sul e Sudeste e, até 2020, internacionalizar a marca e abrir uma cafeteria modelo. “Em três anos, queremos ser reconhecidos pela nossa competência em selecionar e democratizar os cafés de categoria especial brasileiros, por meio da qualidade de nossos produtos e do relacionamento com as pessoas”, explica Mariana. Além disso, constam dos planos exportar para o Mercosul e EUA.

Os cafés especiais da Nau

A Nau compra apenas microlotes e só trabalha com cafés de origem única, acima de 83 pontos da metodologia SCAA.

Num primeiro momento, as amostras são enviadas para análise na Savassi Certificadora, em Patrocínio, Minas Gerais. Os cafés em cápsula são enviados para a Kaffa, em Ribeirão Preto, SP, onde o mestre de torras define a curva de torra e realiza também as operações de moagem e encapsulamento. Já os cafés em grãos são torrados e empacotados na microtorrefação parceira, também em Patrocínio. De lá, os cafés vão para  três centros de distribuição: São Paulo, Londrina e Porto Alegre. Todo o processo é acompanhado pessoalmente por Gilberto. “Num futuro próximo, vamos implantar uma microtorrefação própria em Londrina”, conta Mariana.

Diga-se de passagem, além de administrador, Gilberto é também profundo conhecedor de café, e atua também como classificador e degustador de cafés além de torra e comercialização de grãos.

Café Nau

(Gilberto Strey participando dos processos de torra da Nau)

No momento, estão comercializando cafés especiais das fazenda Capelo & Cunhas, e Florença, do Cerrado Mineiro, Marapé, do Espírito Santo. Para a próxima safra, terão uma edição especial de um café especial com mais de 85 pontos, do produtor Edemar Zuccon, do Espírito Santo, da safra 2016/17, e da Quintas de Guimarães, safra 2017/18

Outra exigência é que só trabalham com produtores com certificação UZT e priorizam as entregas de bicicleta. Todas as embalagens são recicláveis e, em breve, lançarão cápsulas biodegradáveis.

O professor Julio Moreira, parceiro do Grão Especial, foi convidado para fazer uma breve análise sobre o branding da Nau. Confira a seguir:

Em um mundo com excesso de ofertas e consequentemente muitos concorrentes, é sempre bom ver uma empresa buscar diferenciação fugindo do “efeito manada”: copiando os padrões já estabelecidos. No caso, falo da marca “Nau” de cafés especiais de Londrina.  Para isso, a empresa ao lançar sua nova embalagem fugiu das cores tradicionais de cafés: o marrom, bege e similares. Com uso das cores “branca” e “azul” pode se destacar da multidão nas gôndolas no varejo. Cores são fundamentais para criar identidade de marca e ajudar a delimitar um território visual para os produtos da empresa. No começo, pode ser difícil notar que esses novos códigos são de um café. Esse é um risco que a marca corre, caso não tenha força para comunicar o novo conceito aos consumidores.

(A embalagem da caixa de cápsulas de café da Nau)

Um outro aspecto importante e também arriscado é a associação que a marca quer estabelecer com a ‘água”. Os especialistas sabem que a água é fundamental para o preparo de um bom café. Muitos grãos fantásticos podem perder suas qualidades durante o preparo. Mas também, muitas pessoas podem associar o foco em “água” com um café fraco, o famoso “chafé”. Recomendo cuidados nessa área, o que é facilmente factível, se a marca se apropriar do conceito que ela mesma deseja criar da história das navegações, da chegada dos grãos ao novo mundo. E agora com as exportações do café brasileiro para o mundo todo.
Os consumidores de cafés especiais compram produtos de alta qualidade, por isso é muito interessante que “Nau” só tenha micro lotes acima de 80 pontos conforme os critérios da BSCA (Associação Brasileira de Cafés Especiais). E além da qualidade, um dos fatores importantes na decisão de compra é o storytelling do grão. As pessoas querem saber sobre a fazenda, sobre a região e sobre as pessoas que produziram esse café. Qualidade, sustentabilidade social e ambiental são condições básicas para participar do mercado de cafés especiais tanto no Brasil como no exterior. O que desempata o processo de escolha é o envolvimento emocional dos consumidores com a marca.  A Nau” parece entender a experiência do consumidor que deseja comprar um café formidável, mas que não precisa de expressões/nomes que compliquem a compra. Ser simples e direto, sem nomes complicados sobre o tipo de café colabora para que as pessoas identifiquem facilmente o que procuram em um café especial, gerando maior engajamento com a marca.
 
Julio Moreira – Consultor da Place Branding e professor da ESPM – São Paulo

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