Como dois sócios brasileiros criaram, em apenas seis anos, uma rede de cafeterias com filial até em Boston
Diego Gonzalez é de Santo André, SP, e se formou em engenharia ambiental, na USP, campus de Piracicaba. Amante da natureza, achava que tinha escolhido a profissão certa. Afinal, adorava ter que dar expediente ao ar livre e, como se especializou na área de conservação, dava consultoria para grandes grupos como o instituto Ecofuturo, da Suzano.
Mas sempre achou que, quando se aposentasse, iria abrir uma cafeteria, já que adorava café. “Eu imaginava que, quando completasse 60 anos, eu iria ter minha cafeteria”, lembra Diego.
“No Ecofuturo, sempre que saía pra almoçar, parava numa cafeteria em Pinheiros, meio acanhada, feinha, meio largada. Na fachada, apenas uma placa mal ajambrada, escrito “café”. “Eu olhava aquilo e pensava que o lugar tinha um grande potencial: encrustrada numa área comercial, com milhares de pessoas querendo tomar um café legal. Fiquei matutando. Foi então, até que eu dia, criei coragem e perguntei à dona se não queria passar o ponto pra mim e, pra minha surpresa, ela topou na hora”, conta.
No entanto, como não tinha todo o capital disponível, chamou seu amigo, Denilson Fomin, para ser seu sócio. Denilson topou, desde que Diego tocasse o negócio enquanto ele continuaria exercendo a medicina.
Criação do Sofá Café
Sócios até hoje do Sofá Café, Diego lembra que foram seis meses de concepção do negócio, incluindo a criação do branding. Foi se especializar em cafés especiais, fez vários cursos. No Brasil, no Coffee Lab, de Isabela Raposeiras e nos EUA, no Counter Culture Coffee, em Nova York e Boston. Na sequência, fez uma viagem à Europa, onde visitou cafeterias na República Tcheca, França e Áustria.
Na volta, em 2011, abriram a cafeteria, que é a primeira unidade da rede. Mas depois de um tempo, resolveram crescer e abrir uma nova unidade nos Jardins. “Foi um mal passo. Todos os arquitetos falaram que não ia dar certo porque a acafeteria tinha 50 metros quadrados, a maioria das mesas ficava no andar de cima e, pra chegar lá, tinha uma escada em caracol horrível. Resultado: os clientes não queriam subir. Entretanto, mesmo assim, operamos por dois anos no prejuízo, até nos convencermos que realmente, não dava’, relembra.
(Todo o conforto e modernidade da Unidade de Cerqueira César do Sofá Café de Cerqueira César)
Todavia, ainda nesse período, abriram outras filiais e decidiram arriscar ainda mais: seu sócio tinha familiares morando em Boston e quiseram testar a marca por lá. “A princípio, queríamos montar o Sofá Café em Nova York, mas percebemos que a concorrência lá é muito forte”, diz.
Sofá Café em Boston
Foi então que acharam um lugar ideal em Boston, em uma rua parecida com a Oscar Freire e resolveram abrir o negócio, já que a cidade tinha muito potencial para crescer no mercado de cafés especiais. No entanto, cresceram tanto que tiveram que se mudar para Framingham, há 20 minutos de Boston, para uma loja de 400 metros quadrados, com cozinha própria e torra.
“Nosso desejo é a de ter uma representatividade dos cafés especiais brasileiros em Boston. Sempre trabalhamos com 50% de cafés do Brasil e ous outros 50%, com cafés de outras partes do mundo”, explica.
O que dá ao Sofá Café uma oportunidade única. Como têm sua marca própria de cafés, podem trazer ao Brasil, cafés de procedências diversas, como Colômbia, México, África, Honduras, embalados com a marca Sofá Café. “Aqui no Brasil só posso tomar café brasileiro, então, para mim, é uma experiência muito legal”, diz.
Como é a filial em Boston
A cafeteria de Boston têm capacidade para 50 pessoas, sendo que torram, em média, 70 kg de café por mês. Operando com cerca de oito funcionários, Diego conta que, a grande diferença entre montar uma cafeteria no Brasil e nos EUA são as relações trabalhistas. “Nos EUA, as ações trabalhistas praticamente não existem mas, em compensação, você pode perder um funcionário antigo de um dia para o outro. Basta que a concorrência pague um pouco mais”, esclarece.
Entretanto, a contratação também é diferente. Em Boston, é possível contratar o pessoal para trabalhar apenas determinado número de horas por dia. “Por exemplo, assim como no Brasil, meu maior fluxo é durante a hora do almoço. Nesse momento, trabalho com o maior número possível de profissionais. Passado esse horário, eles vão trabalhar em outras cafeterias e eu sigo com o staff reduzido”, explica.
Essa flexibilidade é impossível no Brasil de acordo com a legislação vigente. Por outro lado, um barista ganha US$12 a hora, o equivalente a quase R$ 40 a hora.
As unidades do Sofá Café
Atualmente, o Sofá Café têm sete unidades, cinco própria e duas franquias, uma em SP, e outra no RJ. “É tudo muito corrido, minha rotina é puxada, tenho que ir aos EUA a cada 45 dias. Tenho demanda para abrir outras lojas nos EUA, no modelo de franquia. Mas estamos segurando um pouco. Viramos referência e não quero perder isso”, afirma.
O empresário conta que exige de seus franqueados que estejam no dia-a-dia da operação. “Creio ser essa a chave do nosso sucesso. A pessoa tem que estar presente na cafeteria. Tanto é um modelo vencedor que nossa franqueada do Rio têm três sócias e elas estão o tempo todo por lá. No primeiro ano de funcionamento, ganharam o prêmio da Veja Rio como a melhor cafeteria da cidade”, conta.
Crescimento da marca
Continuar a crescer é uma necessidade de qualquer negócio. Mas Diego e seu sócio estão avaliando qual será o melhor caminho a seguir: “ou vamos expandir, sem nos preocuparmos muito em estar na cafeteria o tempo todo, ou eu vou ter que começar a me desligar de algumas lojas e passar para quem tem interesse em ter uma franquia. Eu queria ficar com uma loja e cuidar da torra”, explica.
(Slogan do Sofá Café: todas cores, origens e variedades)
Atualmente, Diego tem se dedicado muito mais à operação do que à torra. “Amo escolher os cafés, gostaria de ter mais tempo para o hunting. É uma coisa que me dá muito prazer,”confidencia.
Os cafés
No princípio do negócio, usaram muito os cafés especiais orgânicos da Fazenda Ambiental Fortaleza, FAF. Mas atualmente, compram cafés da fazenda Santa Lina, de São Sebastião da Grama; da Eco Agrícola, sul de Minas e da fazenda Império. Servem aos seus clientes single origen. “Apenas eventualmente, se achamos necessário, fazemos um blend. Todos os cafés especiais são torradas na cafeteria de Pinheiros, num torrador Átilla de 10 kg.
Torram quase exclusivamente para suas lojas mas vendem também para a Little Coffee Shop, de São Paulo. Alguns restaurantes também compram seus cafés, além de venderem os microlotes nas cafeteriais.
Projeto Fazedores de Café
“Depois de dois anos e meio de Sofá Café, começou a me inquietar muito essa coisa de ser só empresário, queria fazer alguma coisa mais social”, diz. Sua primeira ideia foi criar um projeto ambiental, algo como ajudar a recuperar a mata ciliar das propriedades. Em uma de suas viagens a Boston, assistiu a um documentário de um americano que tinha vindo para a Argentina, chamado Tom, que descobriu a alpargatas. Ele gostou tanto que decidiu fabricar algo semelhante. Calculou que eram necessários US$8 para produzir o produto e decidiu vendê-lo a US$ 40. Com essa margem de lucro, daria para produzir mais um par e doar. Ainda assim, teria uma margem de lucro de US$ 21.
Alguns famosos americanos adoraram a ideia e começaram a apoiá-lo. Tom vendeu seu produto como água e começou a doar uma quantidade imensa de produtos. Mas depois disso, o projeto cresceu mais ainda: criou outros produtos e faz o mesmo. Por exemplo: a cada café que vende, ele providencia um suprimento de água potável para uma pessoa necessitada e assim por dia, graças às parceiras que costura.
Como funciona o projeto
Diego decidiu, então, fazer algo semelhante e criou o projeto Fazedores de Café. Lá, jovens na idade de 17 anos, em situação de risco, frequentam diariamente por quase três meses, um curso completo de baristas. “Conseguimos empregar 90% do pessoal que se forma”, afirma. Hoje, são mais de 40 parceiros de toda a cadeia dos cafés especiais que ajudam a bancar os custos da iniciativa. Acabaram de concluir a quarta turma e a próxima terá início em fevereiro.
“As aulas são dadas no Sofá Café de Pinheiros e nós bancamos transporte e alimentação para que eles estejam lá todos os dias. As turmas têm, em média, cinco alunos por turma e já formamos 20 baristas. Esse é o nosso objetivo: possibilitar um mundo melhor para essas pessoas que precisam de ajuda”, finaliza.
Sofá Café
UNIDADES:
Pinheiros, São Paulo – Rua Bianchi Bertoldi, 130
Cerqueira César, São Paulo – Rua Artur de Azevedo, 514
Centro Britânico Brasileiro, São Paulo – Rua Ferreira de Araújo, 741
Auditório do Parque do Ibirapuera, São Paulo – Parque do Ibirapuera
Campus São Paulo – Rua Cel. Oscar Porto, 70
Rio De Janeiro – Avenida Nossa Senhora de Copacabana, 300 Loja A
Estados Unidos, Boston – 181, Concord Street Framingham / Massassuchetts