Cláudia foi diretora de marketing e sustentabilidade da Nespresso, trabalhou 25 anos na Nestlé e acaba de fundar uma consultoria em Sustentabilidade, a Hilo Estratégia e Proposta, cujos focos são palestras, mentoria executiva e consultoria. É também conselheira certificada.
“Hoje, a gente está num momento em que a Sustentabilidade é um diferencial. Mas também num momento de muita inverdade. É muito ESG de fachada. Eu vejo green washing, vejo pink washing, muito gente ali colocando um rótulo rosa, e a gente sabe que, de fato, é muito mais uma estratégia comercial do que estão fazendo diferença na vida das mulheres. Tem também o rainbow washing ( lgbtqia+)”.
“Existe uma confusão muito grande entre Sustentabilidade e ESG. Sustentabilidade é uma visão de longo prazo, sistêmica, transformadora. E ESG é uma perspectiva do mercado de capitais, voltada ao risco, ao impacto nos negócios, mas que não necessariamente vai resolver problemas. Perceba que só na definição temos olhares distintos e essa mescla do que tem que ser.”
“Acredito que as associações podem apoiar na difusão do conhecimento, no engajamento para agenda, é uma nova maneira de fazer negócios, tem produtor que continua achando que sustentabilidade não é um assunto relevante, não sabe até onde deve ir com o negócio dando lucro, sem se importar em ser sustentável. Mas se aparece uma denúncia, aí a coisa fica feia pra todo mundo. Eles questionam quando há na mídia alguma exposição ruim, mas aí já é tarde. Muitos parecem que torcem pra dar errado. Mas eu lembro que se der ruim pra um, vai dar ruim pra todos. As associações podem ajudar mostrando o caminho prático, mas cada empresa precisa fazer a sua parte. E a associação têm que juntar esses associados”.
“Não acho que uma associação tem que ter certificação própria, e eu vejo algumas indo nessa linha, não acho que é território dela. Sei que elas ganham dinheiro com isso, mas acho que a associação não tem legitimidade para fazer certificação de sustentabilidade. Há um conflito claro de interesse, tem que ser independente. Senão, tô falando de dentro da bolha, da mesma família, e qual o valor que isso tem? Tem que ser uma certificação independente”.
“O que as associações fazem bem? Elas dão representatividade, união ao setor, defendem o setor, divulgam as boas ações”.
“O que elas fazem mal? Se conectam pouco para fora. Funcionam como um clubinho, elas têm que se abrir para novas trocas, eu não preciso falar só com o agro para aprender sobre sustentabilidade. Elas se fecham muito, precisam ouvir outros setores da sociedade, como serviços, tecnologia, ações que podem inspirar. Também aplicam a máxima de só comunicar algo bom, precisam falar também quando algo não vai bem, tomar pulso da narrativa”.
“O grande tema agora é crédito de carbono e é preciso preparar os associados, seja de qualquer associação sobre esse tema. É inadiável, e é necessário conversar com todo o mundo, já estamos muito atrasados”. As associações devem ter uma agenda internacional sobre o tema”.