Oferecer uma nova profissão e reduzir o índice de reincidências de crimes são os objetivos.
Na prisão masculina The Mount, localizada nos arredores de Londres, foi instalada dentro de uma sala de treinamento, uma máquina de torra de cafés, com capacidade de 70 quilos. Ali, os presidiários têm a oportunidade de desenvolver suas habilidades de barista e torrefador para que, assim que cumpram suas penas, possam ter maiores chances de reinserção na sociedade.
Os grãos de café arábica torrados no local abastecem a rede de cafeterias londrina Redemption Roasters (Torrefadores da Redenção), que afirma ser a primeira empresa de café operando dentro de presídios, em todo o mundo. A rede oferece os melhores cafés especiais de diversas regiões produtoras, em microlotes, que também podem ser adquiridos nas lojas especializadas. A Redemption têm seis lojas espalhadas por Londres, Barbican, Blomsbury, Broadgate Circle, Islington Hight Street, Kings Cross e Liverpool Street.
O projeto começou em abril de 2016 durante o evento London Coffee Festival quando Lee Johnson, na época responsável pelo programa de redução de reincidência em Aylesbury, se aproximou de Max Dubiel e seu sócio Ted Rosner, perguntando se estariam interessados em trabalhar com detentos, treinando-os e dando uma chance de emprego como baristas depois que saíssem da prisão.
Eles se interessaram pela proposta e foram além: sugeriram treinar os detentos também na arte da torra, desde que pudessem montar uma torrefadora dentro da prisão, já que estavam procurando uma forma de iniciar uma nova empresa com esse fim. Para isso, arranjaram um novo sócio Harry Graham. Investiram 80 mil pounds do próprio bolso para fazer a reforma do centro de treinamento. E, atualmente, torram cerca de três toneladas de grãos de café por semana.
O detento recebe um treinamento de cerca de quatro semanas com um professor que é um barista com certificação da SCA. O curso também abrange ensinamentos sobre as origens do café, degustação, bem como moagem, extração e técnica do leite. Após o treinamento, passam por testes e os que são aprovados recebem um kit de barista, com avental, tamper etc. Passada essa fase, o estudante recebe instruções sobre como tirar um espresso perfeito numa máquina último tipo da FAEMA e são incentivados a criar seus próprios drinks. Eles são tratados como empregados e não como presidiários, com tarefas e horários a cumprir.
O cofundador da Redemption Roasters, Max Dubiel, já dirigia uma empresa de café quando foi abordado pelo Ministério da Justiça do Reino Unido para propor um programa de treinamento de baristas para detentos.
“Em última análise, é a coisa certa, porque tira as pessoas desse ciclo vicioso de reincidência, que custa muito caro ao contribuinte, cerca de US$ 53 mil ao ano por preso”, disse Dubiel. “Pior ainda, torna as comunidades menos seguras e também cria vítimas. E acho que todos nós precisamos fazer a nossa parte para reduzir esses número no país”.
índice de reincidência na Inglaterra e no País de Gales é um dos mais altos da Europa, segundo um estudo recente. E quase metade de todos os que cumpriram suas penas na prisão acabam cometendo outro crime em um ano, segundo o Prison Reform Trust.
“Ter um lar estável para onde se possa ir e um emprego faz uma enorme diferença no índice de reincidência”, disse Paul Crossey, vice-diretor da prisão The Mount.
Até 2020, mais de 400 prisioneiros passaram pelo programa de treinamento em The Mount e em nove outros locais de prisão na Inglaterra e no País de Gales. No último ano, 17 foram contratados pelo setor cafeeiro após saírem da prisão.
“Ao empregar um ex-infrator, contrata-se uma força de trabalho incrivelmente leal, grato e ansioso para desenvolver sua carreira com você”, finaliza Dubiel.
O Grão Especial manteve contato com Emma McKeever, diretora de marketing da empresa, para fazermos uma entrevista exclusiva, porém, não foi possível. Emma argumentou que estava focada em atender apenas a imprensa britânica e que, por esse motivo, não poderia falar com o Grão. Insistimos mais uma vez e a executiva afirmou que durante a pandemia não seria possível. Prometeu nos conceder uma entrevista num futuro próximo. Vamos cobrar!
As boas práticas podem e devem ser replicadas ao redor do mundo. Uma experiência bem sucedida como a da Redemption Roasters na recuperação de detentos deve interessar e, quem sabe ser copiada e/ou adaptada pelas nações interessadas em solucionar os problemas das suas comunidades.
Redemption Roasters – www.redemptionroaster.com
Fontes: Business Insider e Financial Times
Fotos: créditos Redemption Roasters