Tim Wendelboe: famoso profissional norueguês veio ao Brasil lançar seu livro em português

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Vencedor do campeonato mundial de baristas em 2004, e do World Cup Tasters em 2005, Tim é uma referência internacional no mundo dos cafés especiais

No mês de maio, Tim Wendelboe (www.timwendelboe.no) visitou o Brasil rapidamente para o lançamento de seu livro “Coffee with Tim Wendelboe”, ( Café com Tim Wendelboe, 144 pgs, R$ 90), prefaciado pela barista Isabela Raposeiras (www.coffeelab.com.br) e editado pela Café Editora. O lançamento aconteceu no Coffee Lab, em Pinheiros, SP, e o próprio Tim, dias mais tarde, nos contou que se impressionou com a quantidade de pessoas que foram até a cafeteria comprar o livro e assistir sua palestra.

Tim Wendelboe

Café com Tim Wendelboe

Tim Wendelboe

Café com Tim Wendelboe

Na manhã seguinte ao evento, Tim foi para Minas visitar a fazenda Daterra e, de lá, partiu para a Colômbia, para supervisionar sua própria produção de grãos. De volta à Oslo, ele concedeu uma entrevista exclusiva para o Grão Especial, que você lê abaixo:

Grão Especial – Por que você comprou uma fazenda de cafés na Colômbia?

Tim Wendelboe – Sou muito perfeccionista e queria aprender a lidar com os cafés no pé. Comprei a fazenda em 2015, de um produtor que eu já conhecia já há algum tempo, pois eu comprava seus cafés. Na Colômbia, as propriedades são muito pequenas e a dele era um pouco maior. Então, ele concordou em vender uma parte pra mim.

Grão Especial – E como está a produção?

Tim Wendelboe – Ainda engatinhando. Quando eu comprei a fazenda, queria produzir cafés orgânicos, sombreados. Sem certificação, porém orgânicos. Assim que tomei posse da propriedade, plantei mil pés de café. Todos morreram. Tive que começar tudo do zero e plantei tudo de novo no ano passado. A qualidade do solo estava terrível. Mas agora, as coisas estão indo muito melhores.

Grão Especial – Por que você escolheu produzir na Colômbia?

Tim Wendelboe – antes de comprar na Colômbia, considerei a possibilidade de investir na América Central ou no Quênia. Mas pra mim, fazia mais sentido começar num país onde eu já tivesse uma relação com a pessoa que iria me ajudar e de quem eu já comprava café desde 2007. E em 2012, comecei a trabalhar muito próximo dele, para ajudá-lo a melhorar a qualidade de seu café. Hoje ele é meu vizinho. Nessa equação, a pessoa que vai me ajudar é mais importante do que o país. Além disso, lá a terra é ótima para o plantio, bem como as condições climáticas.

Grão Especial – Qual o tamanho da sua fazenda?

Tim Wendelboe – Eu tenho sete hectares mas só plantei em um hectare. Ainda tenho muito trabalho a fazer lá.

Grão Especial – Quais variedades você plantou?

Tim Wendelboe – Plantei Tipica, Gesha, Caturra, de uma variedade colombiana e, no futuro, pretendo plantar a SO 28 do Quênia.

Grão Especial – Nunca pensou numa propriedade no Brasil?

Tim Wendelboe – Não, até porque não tenho comprado cafés especiais do Brasil. Pra mim, não fazia muito sentido. Eu teria que ter uma pessoa que me ajudasse na produção, e eu já tinha isso na Colômbia. Se eu fosse comprar terras no Brasil, ia demandar mais tempo pra começar a produzir, até achar uma pessoa de confiança pra tocar a fazenda. Além disso, há o problema legal.

Grão Especial – E por que você não tem comprado cafés especiais brasileiros?

Tim Wendelboe – Primeiro, quero deixar claro que gosto muito dos cafés especiais brasileiros, principalmente os do Caparaó. Vejo enorme potencial neles. Mas, comprar do Brasil pequenas quantidades, como 30 a 50 sacas, que é a minha demanda atual, ficou complicado e o carregamento muito caro. Outra razão, é que na minha cafeteria, os cafés brasileiros são difíceis de vender. Meus clientes preferem cafés mais ácidos e frutados como os da África Oriental. E o meu staff também não entendeu ainda as nuances dos cafés brasileiros.
Mas, se minhas vendas aumentarem, quero voltar a comprar cafés do Brasil. Quando isso acontecer, definitivamente irei comprar os cafés do Espírito Santo, porque pra mim, são os melhores cafés especiais do Brasil. E também gosto muito dos cafés da Chapada Diamantina e do Cerrado Mineiro.

Grão Especial – Quais foram os pontos altos de sua visita ao Brasil?

Tim Wendelboe – Foram vários, mas minha visita à fazenda Daterra foi realmente muito produtiva. Acho que são a fazenda mais importante hoje no Brasil, porque apresentam consistência em seus cafés. Fazem muita pesquisa, sobretudo sobre o impacto das mudanças climáticas, têm capital e as pessoas certas. Acredito que o trabalho que estão fazendo em pesquisas, pode ajudar muito os cafés especiais brasileiros a alcançar um outro patamar. Anotei uma série de coisas durante minha estada lá, e ainda estou lendo tudo o que aprendi na Daterra.

Grão Especial – O que achou da cena do café especial no Brasil?

Tim Wendelboe – Tive pouco tempo para circular e, na realidade, só tomei café no Coffee Lab. Mas o interesse aumentou muito, vi pela quantidade de pessoas que comparecerem ao evento de lançamento do meu livro. Fiquei impressionado!

Grão Especial – Qual recado deixaria para os produtores de cafés especiais do Brasil?

Tim Wendelboe – No Brasil, existem dois tipos de produtores de cafés especiais. Os grandes e os pequenos. Acho que é sempre mais fácil para o pequeno produtor mudar. Acredito que, num futuro breve, o consumidor irá preferir cafés com mais sabores, com acidez natural, cafés sombreados, e o pequeno produtor estará mais apto a implementar rapidamente essas mudanças, inclusive com a introdução de novas variedades. Não vejo razão para os cafés especiais brasileiros evocarem somente notas de chocolate e castanha. Existe um mundo de possibilidades, que inclui novos processamentos, variedades, fermentações etc., que podem deixar os cafés especiais brasileiros muito mais interessantes.

Grão Especial – seu livro “Coffee with Tim Wendelboe” foi escrito em 2009 e só agora traduzido para o português. Em quais línguas já foi traduzido?

Tim Wendelboe – o “Coffee” já foi traduzido para o japonês, chinês, coreano, norueguês, inglês e, agora, o português.

Grão Especial – Fale um pouco sobre o livro.

Tim Wendelboe – O mais importante é ser humilde em relação ao conhecimento sobre o mundo do café. Não ache que já sabe tudo. Mesmo que tenha passado a vida inteira bebendo café, isso não significa que seja um expert no assunto. Há várias maneiras de prepará-lo e, no livro, tento ajudar os leitores a serem bons fazedores de café. Mas meu maior conselho antes de iniciar a leitura do livro é: não se prenda ao que acha que o café deve ser. Em vez disso, tente descobrir o que o café pode ser. O sabor é o que importa, sempre.

Grão Especial – Tem planos de escrever um novo livro?

Tim Wendelboe – Sim, já comecei a esboçá-lo na minha cabeça, mas não iniciei a redação, ainda. Será sobre o café espresso. Prometo, dessa vez, não demorar tanto pra lançar em português.

Grão Especial – Quer deixar uma mensagem para toda a cadeia do café especial brasileiro?

Tim Wendelboe – Sim. Gostaria de ver toda a cadeia mais unida. Baristas, torrefadores, produtores. Na minha cabeça, não faz sentido um barista não conhecer um pé de café, nunca ter visitado uma fazenda. Pelo menos os torrefadores têm que fazer essa ponte. O Brasil é um país privilegiado. Tem produção e consumo. É preciso unir mais os laços dessa cadeia.

Tim Wendelboe – por vários anos trabalhou como barista em Oslo, inclusive no renomado restaurante premiado como o melhor do mundo, o Noma. Lá aprendeu sobre como encantar seus clientes. Trabalhou para uma cadeia de cafeterias em Oslo, a Stockfleth. E, em 2007, abriu seu próprio negócio, que reúne a cafeteria e um centro de treinamento num mesmo endereço. Sua microtorrefação está em outro endereço. Tim importa, torra e vende cafés especiais de alta qualidade, além de ter iniciado sua própria produção, numa pequena propriedade na Colômbia.

Endereço:
Tim Wendelboe – Rua Grüners gate 1, 0552 Oslo, Noruega
Telefone: +47 94431627
Site: www.timwendelboe.no (aceita pedidos do Brasil inclusive)

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