Entrevista Alemanha: Volkmar Klebba.
O Grão Especial entrevistou o jornalista alemão, Volkmar Klebba, também torrefador e proprietário de uma cafeteria de cafés especiais, a Seven Beans, na cidade de Hannover. Nosso objetivo era entender como os alemães, donos de pequenos negócios, estão se virando nesses tempos e de que forma o governo do país está ajudando.
Confira abaixo:
Grão Especial – Quando você teve que fechar seu estabelecimento?
Volkmar Klebba – fechei minha cafeteria no final de fevereiro, por iniciativa própria. Até então, não tínhamos nenhuma restrição por parte do Governo. Mas muito antes, já não havia clientes, os alemães não queriam se arriscar. E, então, no começo de março todos tivemos que fechar.
Grão Especial – Quantos empregados você têm em sua cafeteria?
Volkmar Klebba – tenho quatro empregados e o salário médio para quem trabalho o dia todo é de 1700 euros (oito horas).
Grão Especial – E como vocês estão operando desde então?
Volkmar Klebba – Em função da quarentena, tivemos que fechar a cafeteria e, como pudemos fazer delivery, mesmo assim, estamos operando entre 10% a 20% da nossa capacidade. Nós só estamos autorizados a trabalhar com delivery. O cliente tem que ligar ou enviar um email para fazer seu pedido. Atendemos as pessoas na porta, eles não entram nem pra pegar seus pedidos.
Grão Especial – Vocês estão recebendo alguma ajuda do Governo alemão para se manter?
Volkmar Klebba – Sim, para restaurantes, bares e cafés com menos de cinco empregados, o Governo alemão adiantou um valor de 9 mil euros. Veja, Alemanha têm 16 estados e as legislações mudam um pouco. Aqui em Hanover, onde moro, foi muito fácil receber esse dinheiro. Foi tudo online. Bastava preencher um formulário, dar o número do seguro social, igual ao CNPJ, mais informações como o nome do proprietário, nome do estabelecimento, faturamento de 2018/2019 e uma pequena descrição sobre o porquê você precisava do dinheiro. Mas é importante lembrar que esse dinheiro é um adiantamento, ele deverá ser pago lá na frente.
Grão Especial – Você considera essa ajuda suficiente para seu negócio sobreviver esses meses de confinamento?
Volkmar Klebba – Não, longe disso. Imagine que você tem uma cafeteria de 100 metros quadrados e ela está localizada numa região valorizada. O aluguel irá girar entre mil e três mil euros por mês, fora as outras despesas. É uma situação muito difícil pra nós. E nós tivemos sorte: um pouco antes da pandemia, decidimos começar a vender comida também. Isso nos permitiu ficarmos abertos durante a quarentena. Aquelas cafeterias que só vendem café, chá e sobremesas, por exemplo, pela legislação, tiveram que fechar totalmente as portas.
Grão Especial – O que você acha que vai acontecer com esse mercado de cafeterias de café especial na Europa, de maneira geral?
Volkmar Klebba – Acredito que muitos terão que fechar, infelizmente. Calculo que, de 10 a 20% das cafeterias de cafés especiais serão obrigadas a fechar indefinidamente. São empresas que já não estavam muito bem financeiramente antes do Coronavírus. Mas elas tinham chances reais de sobreviver. Algumas outras tiveram que pedir dinheiro emprestado aos bancos para honrar seus compromissos. Calculo que 10% dessas cafeterias não terão como arcar com seus compromissos.
Além de tudo isso, muitos países produtores de cafés especiais não estão conseguindo entregar os cafés, caso da Colômbia, Honduras etc. E isso é um problema aqui na Europa. Nossos clientes exigem que tenhamos escolhas diferentes no cardápio, como cafés da Etiópia, Panamá, Brasil. Aliás, não estamos tendo problemas de entrega dos cafés especiais brasileiros. Já os de Honduras, não conseguimos receber.
Também estamos enfrentando já o desemprego. Muitos estabelecimentos tiveram que mandar seus funcionários embora. Essas pessoas, que já estavam treinadas para atuar no mercado de cafés especiais, ao não encontrar trabalho, vão migrar para outros mercados. Então, mais pra frente, quando as coisas melhorarem, conseguir gente qualificada para trabalhar nos cafés, será um problema.
Grão Especial – O que você acha que deve ser feito para diminuir, nem que seja um pouco, o impacto de toda essa situação?
Volkmar Klebba – Devemos utilizar as redes sociais para ficar em contato com nossos clientes, seja pelo facebook, instagram. Assim, quando as coisas voltarem à normalidade, será mais fácil eles voltarem a consumir em nossos estabelecimentos.
Grão Especial – Você acha que essa Pandemia trouxe algo de positivo?
Volkmar Klebba – Sim, mostrou para a nossa indústria como um todo, seja o fabricante de máquinas de expresso, de torradores, de empresas de água, passando pelos produtores, os fazendeiros e as cafeterias que precisamos ficar cada vez mais unidos para podermos sair dessa crise fortalecidos. E dividir as informações. Juntos, somos mais fortes. E voltarmos o mais rápido possível para o patamar que estávamos antes da crise.
Grão Especial – Qual é a mensagem que você tem para passar para os nossos produtores de cafés especiais?
Volkmar Klebba – Minha mensagem é que se você, produtor, tiver um problema, simplesmente deixe-nos saber. De alguma forma, a indústria como um todo vai se esforçar para ajudar a resolver. É a única saída. Essa pode ser uma chance de tornar-mos esse mercado mais justo para todos, principalmente para os produtores.
Confira a primeira parte da matéria: COVID-19: Impactos no setor de restaurantes no mundo e no Brasil.