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Abcoffee: A primeira escola do Porto, certificada pela SCA

Especial Portugal: De olho no crescimento do mercado dos cafés especiais em Portugal, os sócios Diogo Amorim e Hugo Ferraz abriram a Abcoffee, a primeira escola do Porto, certificada pela SCA, Specialty Coffee Association, há um ano e já colhem os bons resultados

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Sucesso da Abcoffee tem muito a ver com os brasileiros que imigraram, que compõem mais de 60% dos alunos.

Quando se diz que há brasileiros em todos os cantos do mundo, não duvide. Em Portugal, então, com a facilidade da língua, há milhares, em sua maioria, tentando um lugar ao sol. E, de olho no crescimento do mercado dos cafés especiais na Terrinha, o brazuca antenado anda procurando enriquecer seu curriculum. Prova disso é o sucesso da Abcoffee, a primeira escola sobre cafés especiais do Porto, aberta há apenas um ano, que promove diversos cursos, todos certificados pela SCA.

Os amigos, Hugo Ferraz, barista-chefe e um dos sócios da cafeteria Chá das Cinco e Diogo Amorim, fundador e torrefador da Senzu Coffee Roasters, se uniram para criar a escola, Abcoffee, graças à crescente demanda pelos cafés especiais na cidade do Porto. “O Diogo foi quem orquestrou isso tudo muito mais do que eu, a ideia foi dele. De minha parte, eu só ficava reclamando da falta de profissionais qualificados”, confidencia Hugo. Para criar a Abcoffee, antes fizeram vários cursos pela Europa, em Copenhagen, Milão e Suíça e trouxeram uma síntese do que há de melhor para a escola do Porto.

Atendendo as exigências da SCA

Mas apenas no ano passado, com novas cafeterias surgindo e o número de turistas de outras capitais da Europa aumentando, decidiram investir quase cem mil euros para montar a abcoffee de acordo com as exigências da SCA. “Aqui temos uma sala totalmente preparada para a parte teórica, outra para a prática, com três bancadas equipadas com máquinas de expresso para que os futuros profissionais consigam colocar a mão na massa. Ao fundo dessa sala, está um torrador de um kg, da fabricante portuguesa, Joper, todo branco, cor pouco usual para uma máquina dessa natureza. “Queríamos que as pessoas entendessem de cara que isso é uma escola, daí a nossa exigência de a cor predominante do local ser o branco”, conta Hugo.

Abcoffee

Soma-se a isso a área de laboratório, exigência da SCA, onde é possível escurecer o ambiente quase totalmente e analisar os grãos por meio de uma luz especial, que possibilita enxergar a maioria dos defeitos de um grão de café. “Aqui, também fazemos os cuppings como devem ser feitos: sem identificação, para que possamos, junto com os alunos, analisar os cafés sem preconceito nenhum”, comenta.

“Somos uma SCA premium Campus e todos os cursos por nós ministrados, introdução ao café, café verde, análise sensorial, barista, brewing e torra preenchem os requisitos da associação”, diz.

Como barista profissional, Hugo é responsável por ministrar os cursos de barista e brewing, já que possui formação certificada em Latte Art e obteve o terceiro lugar no Campeonato Nacional de Baristas de 2019.

Já Diogo, que também é formado em economia e ciência do café pela Universidade de Triestre, na Itália, dá aulas de café verde, análise sensorial e torra.

Workshops

Além dos cursos profissionalizantes, a Abcoffee também promove uma série de workshops, cursos de curta duração, de duas horas, em média, com preços mais acessíveis. Na grade, inclusive, está o curso de preparo do chá. “Como trabalho numa cafeteria que trabalha com chás de alta qualidade, percebi que havia uma demanda para este curso, graças à história portuguesa ser entrelaçada com a introdução dos chás na Europa”, conta Hugo. (leia matéria sobre a Camelia Chás)

Abcoffee

“Como uma escola, temos como obrigação explicar para as pessoas que há mais alternativas interessantes para se beber o café, além do expresso, que é o campeão de vendas em Portugal. Praticamente, não se bebe café coado por aqui, e queremos reverter esse quadro”, diz.

O mercado de cafés especiais no Porto

Apesar do crescimento do interesse pelos cafés especiais, o mercado ainda é restrito. “Lutamos contra uma cultura de se tomar o expresso ruim, tirado de forma errada, mas que custa menos do que um euro. Já para se tomar uma xícara de café especial, não se vai gastar menos de 1,5 euros. É uma grande diferença e o português médio ainda não sabe reconhecer a diferença de qualidade. Essa é a função primordial da Abcoffee, ensinar aos poucos o consumidor a perceber as diferenças. Só assim vai exigir um produto melhor”, diz Diogo. Some-se a isso o fato de Portugal ainda ter o menor salário mínimo da Europa, de cerca de 650 euros por mês, contra 1.480 euros na França, por exemplo.

Além disso, a enxurrada de turistas estrangeiros nos últimos tempos, tem auxiliado o crescimento do consumo de cafés de alta qualidade no Porto. “É muito mais fácil vender cafés especiais para quem já ouviu falar deles ou já consomem melhores produtos em seus países de origem. Só nosso mercado interno, não comporta tanto investimento”, explica Diogo.

Abcoffee

Os rapazes recomendam apenas sete cafeterias na cidade que realmente trabalham com cafés especiais. São elas: 7groasters, Bird of Passage, Chá das Cinco, Mesa 325, C ‘alma Coffee Shop, Combi e Fábrica Coffee Roasters. “Essas, a gente garante que servem aos seus clientes, os melhores grãos torrados de forma a extrair o melhor do café”, dizem uníssono.

Abcoffee

Chá das Cinco

Em 2017, Hugo Ferraz, barista e ex-editor de vídeos, e sua noiva, Sofia Lemos da Costa, designer de formação e que descobriu sua verdadeira vocação, estudando a ciência da patisserie na Itália, resolveram abrir a cafeteria Chá das Cinco.

Naturalmente, Hugo cuida da curadoria e do preparo dos cafés especiais e dos chás, fornecidos pela Companhia Portuguesa do Chá e da Camelia Chás. E Sofia cria novas receitas de bolos, salgados e doces, red velvet, donuts de maçã, torta de chocolate e vinho do Porto, entre outras delícias. Que aliás, fornece para diversos outros estabelecimentos na cidade. Mas não espere comer pastel de Belém na casa. “Aqui a pegada são os bolos com pasta americana. Mas os ingredientes usados são portugueses, assim como o mobiliário da década de 70.

Hugo aproveita para colocar em prática tudo o que preconiza na Abcoffee. “Na minha cafeteria, sempre convido os clientes a provar os cafés coados, em diversos métodos, como Chemex, Aeropress, V60. Isso porque é bom lembrar que tomar um cafezinho para nós quer dizer apenas consumir café expresso, e de qualidade inferior. É preciso reverter essa tendência”, enfatiza.

Os cafés especiais servidos variam sempre. Um dos últimos foi um da Etiópia, com notas de pêssego, lima e chocolate. Ah, mas não espere encontra cafés do Brasil lá. A Sofia não gosta, apesar dos apelos do Hugo. “Até hoje, o melhor café que servimos na casa foi um da Isso é Café, da Fazenda Ambiental Fortaleza”, relembra.

Chá das Cinco
www.chadascinco.pt
Endereço: Praça da Alegria, 63 (Bonfim), Porto

Bird of Passage

O Bird of Passage, como o nome diz, é uma ave migratória mas também pode se aplicar a uma pessoa que passa por vários locais sem permanecer muito tempo em nenhum. O proprietário da Bird of Passage é o próprio Paolo Guffens que, apesar do nome italiano, nasceu na Antuérpia, mas já morou na Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Uruguai, Canadá, Londres e, agora, o Porto.

No dia que visitamos a cafeteria, infelizmente, ele não estava, o que, avaliando seu perfil, não é de se estranhar. Mas a verdade é que foi apenas falta de sorte nossa, porque parece que ele achou no Porto, o seu lugar no mundo.

Paolo trabalha com cafés especiais desde 2011 e é apaixonado pelo que faz. Também privilegia o pão e a cerveja artesanais, o azeite, o chá, tudo o que estiver relacionado à qualidade. Talvez seja a cafeteria mais globalizada do Porto, já que seus colaboradores são croatas, poloneses, brasileiros e portugueses.

A estrutura

A casa é moderna, clara e ampla, e tem até um pequeno jardim no fundo da cafeteria, para os dias de sol. Os cafés são torrados pela Senzu, de Diogo Amorim, também da Abcoffee. A Senzu, inclusive, ocupa uma sala, nos fundos, onde fica o torrador Joper e os cafés verdes de diversas partes do mundo. Lá, Diogo torra, em média cerca de 100 kg por mês e se considera um nano torrefador. Atualmente, em seu menu constam cafés de Honduras, Myanmar,Etiopia, El Salvador e Peru.

Apesar de já ter vindo ao Brasil quatro vezes para visitar sua família que mora no Rio, Diogo não consegue emplacar os cafés especiais brasileiros no Porto. “Os traders acham que eu tenho algo contra o país e seus cafés. Pelo contrário, eu adoro os dois. O problema é o preconceito que o café especial ainda sofre na Europa, muita gente ainda acha que são cafés monótonos. E isso faz com que eu não consiga vendê-los para meus clientes. Muitas vezes comprei cafés ótimos e fui obrigada a fazer blends para que não empacassem”, finaliza.

Bird of Passage
www.birdofpassagecoffee.com e Senzu Coffee Roasters www.senzucoffee.com.
Rua do Duque de Loulé, 185, Porto

Mesa 325

 O Mesa 325 foi a primeira cafeteria de cafés especiais do Porto, inaugurada há cerca de cinco anos, pelo casal Mario e Leonor Espinha. Sua inspiração foram as cafeterias de diversas outras capitais europeias, especialmente de Londres. Os cafés servidos por aqui são torrados pela Vernazza, de Frederico Silva, criada em 2015.

Como também não estão localizados na zona turística, e sim no Bonfim, se sobressaíram graças ao excelente serviço e comida de qualidade, já que, lá como aqui, ninguém fica rico vendendo xícaras de café. Quem paga a conta são as comidas!

No Mesa 325 o cardápio começa pelas sopas, passa pelas saladas, pratos e sobremesas. A decoração é super agradável e é possível passar um par de horas lá, degustando cafés do Quênia preparado numa V60 ou um grão colombiano filtrado pela Chemex. O expresso também é muito bem tirado. Também servem cervejas artesanais.

Mesa 325
Avenida São Camilo, 91, Bonfim

Fábrica Coffee Roasters

O Fábrica é, na realidade, uma cafeteria e torrefadora de Lisboa, onde abriu as portas em 2015. No ano passado, chegaram Porto. O local abriga um belo jardim, de onde é possível experimentar cafés especiais do Quênia, Colômbia, Guatemala, Etiopia e Brasil que são podem ser degustados em diversos métodos. Atualmente, possuem mais três localizações em Lisboa.

Compram diretamente dos produtores desses países e, no caso específico dos cafés especiais brasileiros, os utilizam tanto como single origen quanto nos blends.

O Fábrica fica na rua José Falcão, 122, Baixa
www.fabricacoffeeroasters.com

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