A Serra do Caparaó – que para os índios de etnia guarani e tupiniquim significa montanha mágica -, está localizada entre os estados de Minas Gerais e Espírito Santo, ambos grandes produtores de café especial no Brasil.
E os índios estavam certos: Caparaó é, sim, não só uma montanha mágica mas um pedaço do paraíso. É onde se concentra o maior maciço da Mata Atlântica remanescente, cuja biodiversidade é a maior do mundo e as espécies de animais e plantas só são encontrados aqui. Além do café especial, o ecoturismo é uma grande fonte de renda para a comunidade, com suas trilhas até os picos mais altos e cachoeiras de águas cristalinas. Isso sem falar na simpatia dos moradores, que tratam os visitantes como se fossem da família, qualidade tipicamente brasileira.
A Serra do Caparaó abriga o terceiro pico mais alto do Brasil, o Pico da Bandeira, com 2,892 metros de altitude, e é uma região preservada por lei, desde a criação do Parque Nacional de Caparaó, no início da década de 60. É um dos pontos mais importantes para a prática do montanhismo no Brasil e, dentro do parque ainda se encontram cinco dos dez picos mais altos de todo o território nacional.
A viagem para a Serra do Caparaó
Ainda hoje o local é de difícil acesso: de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, são 351 km mas a qualidade das estradas faz com que o tempo aproximado de viagem seja de sete horas.
Mas a viagem vale cada minuto. Quando se vai chegando à serra, a paisagem começa a mudar, a exuberância da Mata Atlântica e os picos cobertos de nuvens são de tirar o fôlego. E as plantações de café começam a despontar.
Quem nos recebeu no sítio Forquilha do Rio, no distrito de Espera Feliz, foi seu proprietário Afonso Lacerda, vencedor do concurso Coffee of the year 2016, promovido pela ABIC, Associação Brasileira da Indústria do Café.
O início do desbravamento
Em 1842, um refugiado político abastado, Antônio Dutra de Carvalho, fugindo de ser preso, levou todos os seus escravos, familiares, gados e pertences, até o local, criando um minúsculo povoado. Ao chegar, encontrou tribos indígenas que, no início, trabalharam na abertura de estradas. Mas a relação entre o homem branco e o índio nunca foi muito amigável.
Logo o desbravador percebeu ques as terras eram de excelente qualidade começou a arrendar para outros fazendeiros pequenos lotes de terra. Ente outras culturas, o café começou a ser plantado e os resultados foram excepcionais. Com a influência política que tinham, os fazendeiros conseguiram com que a estrada de ferro Leopoldina Railway Company Limited, primeira ferrovia implantada no estado de Minas, chegasse ao município vizinho de Manhuaçu, e o café pudesse ser escoado até o porto de Santos. Começou aí a trajetória de sucesso dos cafés da Serra do Caparaó.
Os primeiros fazendeiros foram morrendo e suas famílias começaram a dividir a terra em lotes ainda menores como herança para seus filhos e filhas. O resultado é que a maioria das propriedades de Caparaó têm aproximadamente de três a quatro hectares. Primos casaram com primos e a cultura do café foi se aprimorando desde então.
Atualmente, a comunidade de pequenos produtores da Serra do Caparaó têm cerca de 500 produtores de café especial.
O Café
Numa altitude de 1.130 metros, Afonso explica que a família Lacerda possui duas fazendas, uma ao lado da outra: Pedra Menina, com 27 hectares (nem tudo é café) de seu pai, Onofre Alves de Lacerca, e Forquilha do Rio, com 20 hectares, em sociedade com os três irmãos, Alexandre, Ademir. Em conjunto, as duas propriedades têm 60 mil pés de café, sendo que desses, 60% são café especial e o restante é commoditie. “Trabalhamos para que em breve, tenhamos 80% só de cafés especiais”, conta.
A espécie mais plantada é o catuaí vermelho, embora há 20 anos a espécie Caparaó , uma mutação genética, está sendo testada e a qualidade na xicara tem sido bastante apreciada. “Assim que os testes forem finalizados, teremos a primeira patente da variedade e ficaremos para a história do café especial brasileiro”, se orgulha o produtor.
Num terreno tão íngreme, a colheita é feita 100% manualmente. Na propriedade, trabalham sete pessoas ao longo de todo o ano, inclusive durante as colheitas que vão de maio a dezembro, um pouco mais tardias do que as de outras regiões do Brasil, devido ao clima e a altitude.
Outra peculiaridade da região e que ajuda muito na qualidade do café especial produzido é a qualidade da água dos rios que banham as propriedades. Todas as casas têm tratamento de esgoto – o que, infelizmente, não é muito comum no Brasil. Ou seja, seus rios têm águas claras e puras, próprias para serem bebidas. E é essa água de excelente qualidade que também é utilizada nas lavouras.
Os cafés especiais do Caparaó
Apesar de toda a simplicidade da família, são extremamente habilidosos quando se fala em café. O patriarca dos Lacerda, vendo que seus cafés eram cada vez mais elogiados, procurou a EMATER – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais -, órgão do Governo, e pediu um estudo. Os pesquisadores criaram em 2013, o projeto Grãos do Caparaó.
Ao mesmo tempo, começaram a participar de alguns concursos. Logo no primeiro, inscreveram três lotes. Duas amostras de cereja descascada e uma de natural. Ganharam três troféus. E não pararam mais de serem reconhecidos. No ano passado, ganharam o prêmio da ABIC de melhor café do Brasi
Caíram tanto no gosto dos mais entendidos sobre o assunto que a barista brasileira Camila Franco, da Lucca Café, de Curitiba, escolheu um micro lote de catuaí vermelha cereja descascada flor de março, para competir no Mundial de baristas que acontecerá em Budapeste, na Hungria, de 13 a 15 de junho.
Com o apoio do SEBRAE, órgão governamental, os produtores da região estão buscando a Denominação de Origem ( DO), que deve incluir, num primeiro momento,15 municípios localizados no entorno do Parque Nacional de Caparaó no Espírito Santo, e seis em Minas Gerais. São eles: Dores do Rio Preto, Divino de São Lourenço, Guaçuí, Alegre, Muniz Freire, Ibitirama, Iúna, Irupi e Ibatiba
( Espírito Santo); Espera Feliz, Caparaó, Alto Caparaó, Manhumirim, Alto Jequitibá e Martins Soares ( Minas Gerais)
Os cafés do Sítio Forquilha do Rio são vendidos para diversos países, entre eles Japão, Austrália, Argentina e Estados Unidos. E está presente nas melhores cafeterias e lojas brasileiras como Tem Café em São Paulo, Lucca Café, em Curitiba, Cafeína de Porto Alegre, e para o torrador Wolf, de São Paulo.
O futuro
Atualmente, o Sítio Forquilha do Rio produz 700 sacas de café por ano. “Mas estamos trabalhando sempre para aumentar nossa produtividade. Em 2019, queremos passar das 1000 sacas”, diz o proprietário.
Turismo
O produtor e a esposa abriram uma pequena cafeteria em seu sítio que está fazendo muito sucesso junto aos turistas. Altilina Lacerca, a esposa do Afonso, é responsável pela torra e também pela preparação dos bolos e pães caseiros. Após o fim da colheita, em meados de 2018, ele pretende iniciar a construção de 10 chalés que serão usados para receber os visitantes da Serra do Caparaó. Enquanto seus chalés não ficam prontos, é possível se hospedar na propriedade, numa casinha muito charmosa na propriedade ao lado, de um de seus irmãos. “Foi nessa casinha, que fomos criados, quando pequenos. Hoje, cada irmão possui sua confortável casa”, conclui. Uma das características dessas construções, diga-se de passagem, é que as cozinhas ficam do lado de fora. Então, prepare-se porque pela manhã e à noite o frio geralmente aperta.
Tomar o café da Forquilha do Rio já é um privilégio. Imagina acordar no meio do paraíso, com uma vista deslumbrante e com aquele cheirinho de café!!
Ficha técnica:
Sítio Forquilha do Rio
Proprietário: Afonso Lacerda – afonsolacerda2014@gmail.com
Fones: 55 28 999438432/ 55 28 999629008
Município de Espera Feliz – acesso Capixaba da Portaria do Parque Nacional de Caparaó
Tipo de colheita: manual
Limpeza: peneiramento manual e por máquina
Período de colheita: maio a dezembro
Processamento: por via seca e úmida
Secagem: 3 tipos de terreiro (suspenso, estufa e cimento)
Certificado: Certifica Minas Café – EMATER
Prêmios
– Tetracampeão Regional Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais (2012-2013-2015-2016)
– Tricampeão Estadual Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais (2012-2015-2016)
– Tricampeão Concurso Nacional ABIC de Qualidade de Café (2012-2015-2016)
– Campeão Coffee Of The Year Brasil pela Semana Internacional do Café (2016)
Quer conhecer? Turistar? Anote as dicas!
Como chegar:
- São Paulo/SP: siga em sentido norte a BR-116 (em certo momento ela se transforma na BR-393 mas volta a ser BR-116) até a BR-482 em Fervedouro, siga a BR-482 até o Parque Nacional do Caparaó.
- Belo Horizonte/MG: siga a BR-381 e BR-262 até Reduto, pegue a Rodovia Agenor Carlos Werner, MG-111 e BR-482 até o Parque Nacional do Caparaó.
- Vitória/ES: siga a Rodovia do Sol, BR-101 e BR-482 até Espera Feliz, continue para a ES-495 até seu destino no Parque Nacional do Caparaó.
Onde se hospedar
– Pousada Villa Januária /telefone: +55 (28) 99912 – 1112 /email: villa.januaria@gmail.com /site: www.villajanuaria.com.br
– Cama e Café Fazendinha Manoel e Joana /telefone: +55 (28) 99977 – 6460 /email: joelmapabreu@hotmail.com
– Cama e Café Doce Lar /telefone: +55 (28) 99982 – 2862 /email: jumariaprotazio@outlook.com
– Macieira Parque Hotel /telefone: +55 (28) 99988 – 1430 /email: faustofreitasj@yahoo.com.br/site: www.macieiraparquehotel.com.br